Relâmpagos

Foto de tonyramos

Se Não Houver Outro Amanhã

Quando um novo amanhã chegou
Eu estava dormindo e não vi o sol nascer
Acordei e deixei na cama as decepções
E as lagrimas que o travesseiro absorveu
Sei que a metade do meu dia já se foi
Momentos que deixei de viver
Vejo um dia com nuvens cinzentas
E o sol querendo se esconder
Relâmpagos que propaga no espaço
Anunciando que em breve ira chover

Não ouço nenhum pássaro cantando
Mas da janela vejo um lindo jardim
As flores estão todas alegres
Com o vento bailando e sorrindo pra mim
Quase esquecido esta o meu ontem
O meu hoje em breve chegara ao fim
Ainda encoberto esta o amanhã
Poderei não ter outra chance assim

Sentado na minha cadeira
Sozinho então começo a pensar
Vejo uma multidão indo e vindo
Lutando para os seus ideais realizar
Muitos estão alegres e outras tristes
Que daria tudo para estar em meu lugar
Antes que o dia termine
Ainda há tempo para sorrir e sonhar
Se não houver outro amanhã
Hoje pelos meus sonhos vou lutar
Amanha poderei estar dormindo
E desse sono não mais acordar.

27/05/2017 tonyramos

Foto de Arnault L. D.

Tempestade

Uma garoa mansa acontece,
trovoadas distantes ecoam,
numa tarde morna, de outono.
O Sol, escuro, como anoitece,
sobre o peso das nuvens que troam.
Hora selvagens, hora com sono.

Pelo breu sei que é tempestade.
Pelo silencio dos passarinhos,
que lhe fazem papel de arauto.
e num voo tropel de ansiedade
fogem, alertando no caminho,
para o súbito não vir de assalto.

Lampadas da rua ascendendo
na ignorância que não é noite.
O clarão mudo dos relâmpagos
dublados em atraso, vou vendo
no suspense do primeiro açoite
desta tempestade a qual divago.

Foto de Melquizedeque

Ser alado

Cortante vento que me afoga em um respirar sufocante
Que traz nesse simbiótico relógio a rasura inócua do tempo
Faz-me saber, no último momento, a casta dos segredos teus
Inflija o nascer das flores do dia. Deixe-me velejar no teu oceano

Rasgue a noite com os relâmpagos estridentes
Quando meu dia chegar me eleve ao cume dos montes
Ensina-me a voar e desvairar em um tornado incessante
Sou um incrédulo que transcende ao planar em colinas distantes

Vejo o beija-flor que voa livre nas tuas leis
Vento que bate no coração encarcerado
De um pássaro condenado a viver sem te enfrentar
Tira a solidão do escravo, um sagrado segregado que jamais pode voar.

(Melquizedeque de M. Alemão, 02 de julho de 2011)

Foto de Arnault L. D.

Enganando Girassóis

Como as pontas atraem relâmpagos
e as abelhas são pelas cores;
como o colibri pelas flores
e as sereias aos náufragos.

Como as estrelas aos apaixonados
e os luares as marés;
o nove a completar-se em dez,
ou a cina aos predestinados.

Assim e você para mim.
A tornar-se a direção,
por meu rumo em colisão
das flores de seu jardim...

Como ferro magnetizado,
que busca uma só intenção.
O norte para o meu coração
é o estar ao seu lado...

Qual me houvesse dois sóis
quando passa brilhante, alegro a sigo.
Ao vê-la, acho que existe o perigo
de se enganarem os girassóis...

Foto de Dom Arthur Santos Rocha Pereira de Souza

Teogonia de Hesiodo

Proêmio: hino às Musas
Pelas Musas heliconíades comecemos a cantar.
Elas têm grande e divino o monte Hélicon,
em volta da fonte violácea com pés suaves
dançam e do altar do bem forte filho de Crono.
Banharam a tenra pele no Permesso
ou na fonte do Cavalo ou no Olmio divino
e irrompendo com os pés fizeram coros
belos ardentes no ápice do Hélicon.
Daí precipitando-se ocultas por muita névoa
vão em renques noturnos lançando belíssima voz,
hineando Zeus porta-égide, a soberana Hera
de Argos calçada de áureas sandálias,
Atena de olhos glaucos virgem de Zeus porta-égide,
o luminoso Apoio, Ártemis verte-flechas,
Posídon que sustém e treme a terra,
Têmis veneranda, Afrodite de olhos ágeis,
Hebe de áurea coroa, a bela Dione,
Aurora, o grande Sol, a Lua brilhante,
Leto, Jápeto,de curvo pensar,
Terra, o grande Oceano, a Noite negra
e o sagrado ser dos outros imortais sempre vivos.
Elas um dia a Hesíodo ensinaram belo canto
quando pastoreava ovelhas ao pé do Hélicon divino.
Esta palavra primeiro disseram-me as Deusas
Musas olimpíades, virgens de Zeus porta-égide:
“Pastores agrestes, vis infâmias e ventres só,
sabemos muitas mentiras dizer símeis aos fatos
e sabemos, se queremos, dar a ouvir revelações”.
Assim falaram as virgens do grande Zeus verídicas,
por cetro deram-me um ramo, a um loureiro viçoso
colhendo-o admirável, e inspiraram-me um canto
divino para que eu glorie o futuro e o passado,
impeliram-me a hinear o ser dos venturosos sempre vivos
e a elas primeiro e por último sempre cantar.
Mas por que me vem isto de carvalho e de pedra?
Eia! pelas Musas comecemos, elas a Zeus pai
hineando alegram o grande espírito no Olimpo
dizendo o presente, o futuro e o passado
vozes aliando. Infatigável flui o som
das bocas, suave. Brilha o palácio do pai
Zeus troante quando a voz lirial das Deusas
espalha-se, ecoa a cabeça do Olimpo nevado
e o palácio dos imortais. Lançando voz imperecível
o ser venerando dos Deuses primeiro gloriam no canto
dês o começo: os que a Terra e o Céu amplo geraram
e os deles nascidos Deuses doadores de bens,
depois Zeus pai dos Deuses e dos homens,
no começo e fim do canto hineiam as Deusas
o mais forte dos Deuses e o maior em poder,
e ainda o ser de homens e de poderosos Gigantes.
Hineando alegram o espírito de Zeus no Olimpo
Musas olimpíades, virgens de Zeus porta-égide.
Na Piéria gerou-as, da união do Pai Cronida,
Memória rainha nas colinas de Eleutera,
para oblívio de males e pausa de aflições.
Nove noites teve uniões com ela o sábio Zeus
longe dos imortais subindo ao sagrado leito.
Quando girou o ano e retornaram as estações
com as minguas das luas e muitos dias findaram,
ela pariu nove moças concordes que dos cantares
têm o desvelo no peito e não-triste ânimo,
perto do ápice altíssimo do nevoso Olimpo,
aí os seus coros luzentes e belo palácio.
Junto a elas as Graças e o Desejo têm morada
nas festas, pelas bocas amável voz lançando
dançam e gloriam a partilha e hábitos nobres
de todos os imortais, voz bem amável lançando.
Elas iam ao Olimpo exultantes com a bela voz,
imperecível dança. Em torno gritava a terra negra
ao hinearem, dos pés amável ruído erguia-se
ao irem a seu pai. Ele reina no céu
tendo consigo o trovão e o raio flamante,
venceu no poder o pai Crono, e aos imortais
bem distribuiu e indicou cada honra;
isto as Musas cantavam, tendo o palácio Olímpio,
nove filhas nascidas do grande Zeus:
Glória, Alegria, Festa, Dançarina,
Alegra-coro, Amorosa, Hinária, Celeste
e Belavoz, que dentre todas vem à frente.
Ela é que acompanha os reis venerandos.
A quem honram as virgens do grande Zeus
e dentre reis sustentados por Zeus vêem nascer,
elas lhe vertem sobre a língua o doce orvalho
e palavras de mel fluem de sua boca. Todas
as gentes o olham decidir as sentenças
com reta justiça e ele firme falando na ágora
logo à grande discórdia cônscio põe fim,
pois os reis têm prudência quando às gentes
violadas na ágora perfazem as reparações
facilmente, a persuadir com brandas palavras.
Indo à assembléia, como a um Deus o propiciam
pelo doce honor e nas reuniões se distingue.
Tal das Musas o sagrado dom aos homens.
Pelas Musas e pelo golpeante Apoio
há cantores e citaristas sobre a terra,
e por Zeus, reis. Feliz é quem as Musas
amam, doce de sua boca flui a voz.
Se com angústia no ânimo recém-ferido
alguém aflito mirra o coração e se o cantor
servo das Musas hineia a glória dos antigos
e os venturosos Deuses que têm o Olimpo,
logo esquece os pesares e de nenhuma aflição
se lembra, já os desviaram os dons das Deusas
Alegrai, filhas de Zeus, dai ardente canto,
gloriai o sagrado ser dos imortais sempre vivos,
os que nasceram da Terra e do Céu constelado,
os da Noite trevosa, os que o salgado Mar criou.
Dizei como no começo Deuses e Terra nasceram,
os Rios, o Mar infinito impetuoso de ondas,
os Astros brilhantes e o Céu amplo em cima.
Os deles nascidos Deuses doadores de bens
como dividiram a opulência e repartiram as honras
e como no começo tiveram o rugoso Olimpo.
Dizei-me isto, Musas que tendes o palácio Olímpio,
dês o começo e quem dentre eles primeiro nasceu.
Os Deuses primordiais
Sim bem primeiro nasceu Caos, depois também
Terra de amplo seio, de todos sede irresvalável sempre,
dos imortais que têm a cabeça do Olimpo nevado,
e Tártaro nevoento no fundo do chão de amplas vias,
e Eros: o mais belo entre Deuses imortais,
solta-membros, dos Deuses todos e dos homens todos
ele doma no peito o espírito e a prudente vontade.
Do Caos Érebos e Noite negra nasceram.
Da Noite aliás Éter e Dia nasceram,
gerou-os fecundada unida a Érebos em amor.
Terra primeiro pariu igual a si mesma
Céu constelado, para cercá-la toda ao redor
e ser aos Deuses venturosos sede irresvalável sempre.
Pariu altas Montanhas, belos abrigos das Deusas
ninfas que moram nas montanhas frondosas.
E pariu a infecunda planície impetuosa de ondas
o Mar, sem o desejoso amor. Depois pariu
do coito com Céu: Oceano de fundos remoinhos
e Coios e Crios e Hipérion e Jápeto
e Teia e Réia e Têmis e Memória
e Febe de áurea coroa e Tétis amorosa.
E após com ótimas armas Crono de curvo pensar,
filho o mais terrível: detestou o florescente pai.
Pariu ainda os Ciclopes de soberbo coração:
Trovão, Relâmpago e Arges de violento ânimo
que a Zeus deram o trovão e forjaram o raio.
Eles no mais eram comparáveis aos Deuses,
único olho bem no meio repousava na fronte.
Ciclopes denominava-os o nome, porque neles
circular olho sozinho repousava na fronte.
Vigor, violência e engenho possuíam na ação.
Outros ainda da Terra e do Céu nasceram,
três filhos enormes, violentos, não nomeáveis.
Cotos, Briareu e Giges, assombrosos filhos.
Deles, eram cem braços que saltavam dos ombros,
improximáveis; cabeças de cada um cinqüenta
brotavam dos ombros, sobre os grossos membros.
Vigor sem limite, poderoso na enorme forma
História do Céu e de Crono
Quantos da Terra e do Céu nasceram,
filhos os mais temíveis, detestava-os o pai
dês o começo: tão logo cada um deles nascia
a todos ocultava, à luz não os permitindo,
na cova da Terra. Alegrava-se na maligna obra
o Céu. Por dentro gemia a Terra prodigiosa
atulhada, e urdiu dolosa e maligna arte.
Rápida criou o gênero do grisalho aço,
forjou grande podão e indicou aos filhos.
Disse com ousadia, ofendida no coração:
“Filhos meus e do pai estólido, se quiserdes
ter-me fé, puniremos o maligno ultraje de vosso
pai, pois ele tramou antes obras indignas”.
Assim falou e a todos reteve o terror, ninguém
vozeou. Ousado o grande Crono de curvo pensar
devolveu logo as palavras à mãe cuidadosa:
“Mãe, isto eu prometo e cumprirei
a obra, porque nefando não me importa o nosso
pai, pois ele tramou antes obras indignas”.
Assim falou. Exultou nas entranhas Terra prodigiosa,
colocou-o oculto em tocaia, pôs-lhe nas mãos
a foice dentada e inculcou-lhe todo o ardil.
Veio com a noite o grande Céu, ao redor da Terra
desejando amor sobrepairou e estendeu-se
a tudo. Da tocaia o filho alcançou com a mão
esquerda, com a destra pegou a prodigiosa foice
longa e dentada. E do pai o pênis
ceifou com ímpeto e lançou-o a esmo
para trás. Mas nada inerte escapou da mão:
quantos salpicos respingaram sanguíneos
a todos recebeu-os a Terra; com o girar do ano
gerou as Erínias duras, os grandes Gigantes
rútilos nas armas, com longas lanças nas mãos,
e Ninfas chamadas Freixos sobre a terra infinita.
O pênis, tão logo cortando-o com o aço
atirou do continente no undoso mar,
aí muito boiou na planície, ao redor branca
espuma da imortal carne ejaculava-se, dela
uma virgem criou-se. Primeiro Citera divina
atingiu, depois foi à circunfluída Chipre
e saiu veneranda bela Deusa, ao redor relva
crescia sob esbeltos pés. A ela. Afrodite
Deusa nascida de espuma e bem-coroada Citeréia
apelidam homens e Deuses, porque da espuma
criou-se e Citeréia porque tocou Citera,
Cípria porque nasceu na undosa Chipre,
e Amor-do-pênis porque saiu do pênis à luz.
Eros acompanhou-a, Desejo seguiu-a belo,
tão logo nasceu e foi para a grei dos Deuses.
Esta honra tem dês o começo e na partilha
coube-lhe entre homens e Deuses imortais
as conversas de moças, os sorrisos, os enganos,
o doce gozo, o amor e a meiguice.
O pai com o apelido de Titãs apelidou-os:
o grande Céu vituperando filhos que gerou
dizia terem feito, na altiva estultícia,
grã obra de que castigo teriam no porvir.
Os filhos da Noite
Noite pariu hediondo Lote, Sorte negra
e Morte, pariu Sono e pariu a grei de Sonhos.
A seguir Escárnio e Miséria cheia de dor.
Com nenhum conúbio divina pariu-os Noite trevosa.
As Hespérides que vigiam além do ínclito Oceano
belas maçãs de ouro e as árvores frutiferantes
pariu e as Partes e as Sortes que punem sem dó:
Fiandeira, Distributriz e Inflexível que aos mortais
tão logo nascidos dão os haveres de bem e de mal,
elas perseguem transgressões de homens e Deuses
e jamais repousam as Deusas da terrível cólera
até que dêem com o olho maligno naquele que erra.
Pariu ainda Nêmesis ruína dos perecíveis mortais
a Noite funérea. Depois pariu Engano e Amor
e Velhice funesta e pariu Éris de ânimo cruel.
Éris hedionda pariu Fadiga cheia de dor,
Olvido, Fome e Dores cheias de lágrimas,
Batalhas, Combates, Massacres e Homicídios,
Litígios, Mentiras, Falas e Disputas,
Desordem e Derrota conviventes uma da outra,
e Juramento, que aos sobreterrâneos homens
muito arruina quando alguém adrede perjura.
A linhagem do Mar
O Mar gerou Nereu sem mentira nem olvido,
filho o mais velho, também o chamam Ancião
porque infalível e bom, nem os preceitos
olvida mas justos e bons desígnios conhece.
Amante da Terra gerou também o grande Espanto
e o viril Fórcis e Ceto de belas faces
e Euríbia que nas entranhas tem ânimo de aço.
De Nereu nasceram filhas rivais de Deusas
no mar infecundo. Dádiva de belos cabelos
virgem do Oceano, rio circular, gerou-as:
Primeira, Eficácia, Salvante, Anfitrite,
Doadora, Tétis, Bonança, Glauca,
Ondaveloz, Gruta, Veloz, Marina amável,
Onidéia, Amorosa, Vitória de róseos braços,
Melita graciosa, Portuária, Esplendente,
Dadivosa, Primeira, Portadora, Potente,
Ilhéia, Recife, Rainhaprima,
Dádiva, Onividente, formosa Galatéia,
Eguaveloz amável, Égua-sagaz de róseos braços,
Pega-onda que apazigua no mar cor de névoa
facilmente a onda e o sopro de fortes ventos
com Aplana-onda e Anfitrite de belos tornozelos,
Ondeia, Praia, a bem-coroada Rainhamarina,
Glaucapartilha sorridente, Travessia,
Reúne-gente, Reúne-bem, Rainha-das-gentes,
Multi-sagaz, Sagacidade, Rainha-solvente,
Pastora de amável talhe e perfeita beleza,
Arenosa de gracioso corpo, divina Equestre,
llhoa, Escolta, Preceitora, Previdência
e Infalível que do pai imortal tem o espírito.
Estas nasceram do irrepreensível Nereu,
cinqüenta virgens, sábias de ações irrepreensíveis.
Espanto à filha do Oceano de profundo fluir
desposou, Ambarina. Ela pariu ligeira Íris
e Harpias de belos cabelos: Procela e Alígera
que a pássaros e rajadas de vento acompanham
com asas ligeiras, pois no abismo do ar se lançam.
De Fórcis, Ceto gerou as Velhas de belas faces,
grisalhas de nascença, apelidam-nas Velhas
Deuses imortais e homens caminhantes da terra:
Penfredo de véu perfeito e Ênio de véu açafrão.
Gerou Górgonas que habitam além do ínclito Oceano
os confins da noite (onde as Hespérides cantoras):
Esteno, Euríale e Medusa que sofreu o funesto,
era mortal, as outras imortais e sem velhice
ambas, mas com ela deitou-se o Crina-preta
no macio prado entre flores de primavera.
Dela, quando Perseu lhe decapitou o pescoço,
surgiram o grande Aurigládio e o cavalo Pégaso;
tem este nome porque ao pé das águas do Oceano
nasceu, o outro com o gládio de ouro nas mãos,
voando ele abandonou a terra mãe de rebanhos
e foi aos imortais e habita o palácio de Zeus,
portador de trovão e relâmpago de Zeus sábio.
Aurigládio gerou Gerioneu de três cabeças
unindo-se a Belaflui virgem do ínclito Oceano.
E a Gerioneu matou-o a força de Heracles
perto dos bois sinuosos na circunfluída Eritéia
no dia em que tangeria os bois de ampla testa
para Tirinto sagrada após atravessar o Oceano
após matar Ortro e o vaqueiro Eurítion
no nevoento estábulo além do ínclito Oceano.
Ela pariu outro incombatível prodígio nem par
a homens mortais nem a Deuses imortais
numa gruta cava: divina Víbora de ânimo cruel,
semininfa de olhos vivos e belas faces
e prodigiosa semi-serpente terrível e enorme,
cambiante carnívoro sob covil na divina terra
Aí sua gruta lá embaixo está sob côncava pedra
longe dos Deuses imortais e dos homens mortais
aí lhe deram os Deuses habitar ínclito palácio.
Em Árimos sob o chão reteve-se a lúgubre Víbora
ninfa imortal e sem velhice para sempre.
É fama que com ela Tífon uniu-se em amor,
terrível soberbo sem lei com a virgem de olhos vivos.
Ela fecundada pariu crias de ânimo cruel.
Gerou primeiro Ortro, cão de Gerioneu.
Depois pariu o incombatível e não nomeável
Cérbero carnívoro, cão de brônzea voz do Hades,
de cinquenta cabeças, impudente e cruel.
A seguir gerou Hidra, sábia do que é funesto,
e em Lerna nutriu-a a Deusa de alvos braços Hera
por imenso rancor contra a força de Heracles;
matou-a o filho de Zeus com não piedoso bronze,
Heracles Anfitrionida, com o dileto de Ares
Iolau, por desígnios de Atena apresadora.
Ela pariu a Cabra que sopra irrepelível fogo,
a terrível e grande e de pés ligeiros e cruel,
tinha três cabeças: uma de leão de olhos rútilos,
outra de cabra, outra de víbora, cruel serpente.
Na frente leão, atrás serpente, no meio cabra,
expirando o terrível furor do fogo aceso.
Agarrou-a Pégaso e o bravo Belerofonte.
E ela pariu a funesta Fix, ruína dos cadmeus,
emprenhada por Ortro, pariu o Leão de Neméia
que Hera a ínclita esposa de Zeus nutriu
e abrigou nas colinas de Neméia, pena dos homens:
aí residindo destruía greis de homens
senhor de Treto e Apesanta em Neméia,
mas sucumbiu ao vigor da força de Heracles.
Unida a Fórcis em amor, Ceto gerou por fim
terrível Serpente que no covil da terra trevosa
nas grandes fronteiras guarda maçãs de ouro.
Esta é a geração de Ceto e de Fórcis.
A linhagem do Céu
Tétis gerou de Oceano os rios rodopiantes:
Nilo, Alfeu, Erídano de rodopios profundos,
Estrímon, Meandro, Istro de belo fluir,
Fase, Reso, Aquelôo de rodopios de prata,
Nesso, Ródio, Haliácmon, Sete-bocas,
Granico, Esepo, Simoente divino,
Peneu, Hermo, Caico bem-fluente,
Sangário grande, Ládon, Partênio,
Eveno, Árdesco e Escamandro divino.
E pariu a sagrada geração de filhas
que pela terra adolescem homens com Apoio rei
e com os Rios e que têm de Zeus esta honra:
Persuasiva, Virgínea, Violeta, Ambarina
Dádiva, Popa, Celeste de divina aparência,
Equina, Clímene, Rósea, Belaflui,
Núpcia, Clítia, Sábia, Persuasora,
Plexaura, Galaxaura, amável Dione,
Pecuária, Veloz, formosa Polidora,
Tecelã de amável talhe, Riqueza de olhos bovinos,
Perseida, Ianeira, Acaste, Loira
Pétrea amorosa, Resistência, Europa,
Astúcia, Eurinome, Concludente de véu açafrão,
Áurea, Ásia, amorosa Calipso,
Doadora, Acaso, Circunflui, Velozflui
e Estige que dentre todas vem à frente.
Estas nasceram de Oceano e de Tétis
filhas mais velhas: há muitas outras ainda,
há três mil Oceaninas de finos tornozelos
que dispersas percorrem terra e águas profundas
por igual e de todo, crias magníficas entre Deusas.
Outros rios que fluem fragorosos são tantos
filhos de Oceano, gerou-os Tétis soberana.
De todos é difícil a um mortal dizer o nome,
a cada um conhece quem habita à sua beira.
Téia gerou o grande Sol, a Lua brilhante
e Aurora que brilha a todos nós sobreterrâneos
e aos Deuses imortais que têm o céu amplo,
gerou-os submetida a Hipérion em amor.
Euríbia unida a Crios em amor gerou
divina entre Deusas: o grande Astreu, Palas
e Perses distinto de todos pela sabedoria.
Aurora gerou de Astreu ventos de ânimo violento,
Zéfiro clareante, Bóreas de veloz caminhada
e Notos, no coito amoroso a Deusa com o Deus,
e após aurorante pariu a Estrela da Manhã
e os astros brilhantes de que o céu se coroa.
Estige filha do Oceano unida a Palas
no palácio pariu Zelo e Vitória de belos tornozelos
e pariu Poder e Violência, insignes filhos.
Longe deles não há morada de Zeus nem pouso
nem percurso por onde o Deus não os guie
mas sempre peito de Zeus gravitroante repousam.
Assim decidiu Estige imperecível Oceanina
no dia em que o Olímpio relampeante a todos
os imortais conclamou ao alto Olimpo,
e disse quem dos Deuses combatesse com ele os Titãs
ele não o privaria dos prêmios e cada honra
manteria como antes entre os Deuses imortais,
e que o não-honrado sob Crono e sem-prêmios
honra e prêmio alcançaria, como é justiça.
E veio primeiro Estige imperecível ao Olimpo
com os filhos, por desígnios de seu pai;
honrou-a Zeus e supremos dons lhe deu:
fez dela própria o grande juramento dos Deuses
e seus filhos para sempre residirem com ele.
Assim para todos inteiramente como prometeu
cumpriu, ele próprio tem grande poder e reina.

Hino a Hécate
Febe entrou no amoroso leito de Coios
e fecundou a Deusa o Deus em amor,
ela gerou Leto de negro véu, a sempre doce,
boa aos homens e aos Deuses imortais,
doce dês o começo, a mais suave no Olimpo.
Gerou Astéria de propício nome, que Perses
conduziu um dia a seu palácio e desposou,
e fecundada pariu Hécate a quem mais
Zeus Cronida honrou e concedeu esplêndidos dons,
ter parte na terra e no mar infecundo.
Ela também do Céu constelado partilhou a honra
e é muito honrada entre os Deuses imortais.
Hoje ainda, se algum homem sobre a terra
com belos sacrifícios conforme os ritos propicia
e invoca Hécate, muita honra o acompanha
facilmente, a quem a Deusa propensa acolhe a prece;
e torna-o opulento, porque ela tem força.
De quantos nasceram da Terra e do Céu
e receberam honra, de todos obteve um lote;
nem o Cronida violou nem a despojou
do que recebeu entre os antigos Deuses Titãs,
e ela tem como primeiro no começo houve a partilha.
Nem porque filha única menos partilhou de honra
e de privilégio na terra e no céu e no mar
mas ainda mais, porque honra-a Zeus.
A quem quer, grandemente dá auxílio e ajuda,
no tribunal senta-se junto aos reis venerandos,
na assembléia entre o povo distingue a quem quer,
e quando se armam para o combate homicida
os homens, aí a Deusa assiste a quem quer
e propícia concede vitória e oferece-lhe glória.
Diligente quando os homens lutam nos jogos
aí também a Deusa lhe dá auxílio e ajuda,
e vencendo pela força e vigor, leva belo prêmio
facilmente, com alegria, e aos pais dá a glória.
Diligente entre os cavaleiros assiste a quem quer,
e aos que lavram o mar de ínvios caminhos
e suplicam a Hécate e ao troante Treme-terra,
fácil a gloriosa Deusa concede muita pesca
ou surge e arranca-a, se o quer no seu ânimo.
Diligente no estábulo com Hermes aumenta
o rebanho de bois e a larga tropa de cabras
e a de ovelhas lanosas, se o quer no seu ânimo,
de poucos avoluma-os e de muitos faz menores.
Assim, apesar de ser a única filha de sua mãe,
entre imortais é honrada com todos os privilégios.
O Cronida a fez nutriz de jovens que depois dela
com os olhos viram a luz da multividente Aurora.
Assim dês o começo é nutriz de jovens e estas as honras
O nascimento de Zeus
Réia submetida a Crono pariu brilhantes filhos:
Héstia, Deméter e Hera de áureas sandálias,
o forte Hades que sob o chão habita um palácio
com impiedoso coração, o troante Treme-terra
e o sábio Zeus, pai dos Deuses e dos homens,
sob cujo trovão até a ampla terra se abala.
E engolia-os o grande Crono tão logo cada um
do ventre sagrado da mãe descia aos joelhos,
tramando-o para que outro dos magníficos Uranidas
não tivesse entre os imortais a honra de rei.
Pois soube da Terra e do Céu constelado
que lhe era destino por um filho ser submetido
apesar de poderoso, por desígnios do grande Zeus.
E não mantinha vigilância de cego, mas à espreita
engolia os filhos. Réia agarrou-a longa aflição.
Mas quando a Zeus pai dos Deuses e dos homens
ela devia parir, suplicou-lhe então aos pais queridos,
aos seus, à Terra e ao Céu constelado,
comporem um ardil para que oculta parisse
o filho, e fosse punido pelas Erínias do pai
e filhos engolidos o grande Crono de curvo pensar.
Eles escutaram e atenderam à filha querida
e indicaram quanto era destino ocorrer
ao rei Crono e ao filho de violento ânimo.
Enviaram-na a Licto, gorda região de Creta,
quando ela devia parir o filho de ótimas armas,
o grande Zeus, e recebeu-o Terra prodigiosa
na vasta Creta para nutri-lo e criá-lo.
Aí levando-o através da veloz noite negra atingiu
primeiro Licto, e com ele nas mãos escondeu-o
em gruta íngreme sob o covil da terra divina
no monte das Cabras denso de árvores.
Encueirou grande pedra e entregou-a
ao soberano Uranida rei dos antigos Deuses.
Tomando-a nas mãos meteu-a ventre abaixo
o coitado, nem pensou nas entranhas que deixava
em vez da pedra o seu filho invicto e seguro
ao porvir. Este com violência e mãos dominando-o
logo o expulsaria da honra e reinaria entre imortais.
Rápido o vigor e os brilhantes membros
do príncipe cresciam. E com o girar do ano,
enganado por repetidas instigações da Terra,
soltou a prole o grande Crono de curvo pensar,
vencido pelas artes e violência do filho.
Primeiro vomitou a pedra por último engolida.
Zeus cravou-a sobre a terra de amplas vias
em Delfos divino, nos vales ao pé do Parnaso,
signo ao porvir e espanto aos perecíveis mortais.
E livrou das perdidas prisões os tios paternos
Trovão, Relâmpago e Arges de violento ânimo,
filhos de Céu a quem o pai em desvario prendeu
e eles lembrados da graça benéfica
deram-lhe o trovão e o raio flamante
e o relâmpago que antes Terra prodigiosa recobria.
Neles confiante reina sobre mortais e imortais.
História de Prometeu
Jápeto desposou Clímene de belos tornozelos
virgem Oceanína e entraram no mesmo leito.
Ela gerou o filho Atlas de violento ânimo,
pariu o sobreglorioso Menécio e Prometeu
astuto de iriado pensar e o sem-acerto Epimeteu
que foi um mal dês o começo aos homens come-pão,
pois primeiro aceitou de Zeus moldada a mulher
virgem. Ao soberbo Menécio, Zeus longividente
lançou-o Érebos abaixo golpeando com fúmeo raio
por sua estultícia e bravura bem-armada.
Atlas sustém o amplo céu sob cruel coerção
nos confins da Terra ante as Hespérides cantoras,
de pé, com a cabeça e infatigáveis braços:
este destino o sábio Zeus atribuiu-lhe.
E prendeu com infrágeis peias Prometeu astuciador,
cadeias dolorosas passadas ao meio duma coluna,
e sobre ele incitou uma águia de longas asas,
ela comia o fígado imortal, ele crescia à noite
todo igual o comera de dia a ave de longas asas.
O filho de Alcmena de belos tornozelos valente
Heracles matou-a, da maligna doença defendeu
o filho de Jápeto e libertou-o dos tormentos,
não discordando Zeus Olímpio o sublime soberano
para que de Heracles Tebano fosse a glória
maior que antes sobre a terra multinutriz.
Reverente ele honrou ao insigne filho,
apesar da cólera pôs fim ao rancor que retinha
de quem desafiou os desígnios do pujante Cronida.
Quando se discerniam Deuses e homens mortais
em Mecona, com ânimo atento dividindo ofertou
grande boi, a trapacear o espírito de Zeus:
aqui pôs carnes e gordas vísceras com a banha
sobre a pele e cobriu-as com o ventre do boi,
ali os alvos ossos do boi com dolosa arte
dispôs e cobriu-os com a brilhante banha.
Disse-lhe o pai dos homens e dos Deuses:
“Filho de Jápeto, insigne dentre todos os reis,
ó doce, dividiste as partes zeloso de um só!”.
Assim falou a zombar Zeus de imperecíveis desígnios.
E disse-lhe Prometeu de curvo pensar
sorrindo leve, não esqueceu a dolosa arte:
“Zeus, o de maior glória e poder dos Deuses perenes,
toma qual dos dois nas entranhas te exorta o ânimo”.
Falou por astúcia. Zeus de imperecíveis desígnios
soube, não ignorou a astúcia; nas entranhas previu
males que aos homens mortais deviam cumprir-se.
Com as duas mãos ergueu a alva gordura,
raivou nas entranhas, o rancor veio ao seu ânimo,
quando viu alvos ossos do boi sob dolosa arte.
Por isso aos imortais sobre a terra a grei humana
queima os alvos ossos em altares turiais.
E colérico disse-lhe Zeus agrega-nuvens:
“Filho de Jápeto, o mais hábil em seus desígnios,
ó doce, ainda não esqueceste a dolosa arte!”.
Assim falou irado Zeus de imperecíveis desígnios,
depois sempre deste ardil lembrado
negou nos freixos a força do fogo infatigável
aos homens mortais que sobre a terra habitam.
Porém o enganou o bravo filho de Jápeto:
furtou o brilho longevisível do infatigável fogo
em oca férula; mordeu fundo o ânimo
a Zeus tonítruo e enraivou seu coração
ver entre homens o brilho longevisível do fogo.
E criou já ao invés do fogo um mal aos homens:
plasmou-o da terra o ínclito Pés-tortos
como virgem pudente, por desígnios do Cronida;
cingiu e adornou-a a Deusa Atena de olhos glaucos
com vestes alvas, compôs um véu laborioso
descendo-lhe da cabeça, prodígio aos olhos,
ao redor coroas de flores novas da relva
sedutoras lhe pôs na fronte Palas Atena
e ao redor da cabeça pôs uma coroa de ouro,
quem a fabricou: o ínclito Pés-tortos
lavrando-a nas mãos, agradando a Zeus pai,
e muitos lavores nela gravou, prodígio aos olhos,
das feras que a terra e o mar nutrem muitas
ele pôs muitas ali (esplendia muita a graça)
prodigiosas iguais às que vivas têm voz.
Após ter criado belo o mal em vez de um bem
levou-a lá onde eram outros Deuses e homens
adornada pela dos olhos glaucos e do pai forte.
O espanto reteve Deuses imortais e homens mortais
ao virem íngreme incombatível ardil aos homens.
Dela descende a geração das femininas mulheres.
Dela é a funesta geração e grei das mulheres,
grande pena que habita entre homens mortais,
parceiras não da penúria cruel, porém do luxo.
Tal quando na colméia recoberta abelhas
nutrem zangões, emparelhados de malefício,
elas todo o dia até o mergulho do sol
diurnas fadigam-se e fazem os brancos favos,
eles ficam no abrigo do enxame à espera
e amontoam no seu ventre o esforço alheio,
assim um mal igual fez aos homens mortais
Zeus tonítruo: as mulheres, parelhas de obras
ásperas, e em vez de um bem deu oposto mal.
Quem fugindo a núpcias e a obrigações com mulheres
não quer casar-se, atinge a velhice funesta
sem quem o segure: não de víveres carente
vive, mas ao morrer dividem-lhe as posses
parentes longes. A quem vem o destino de núpcias
e cabe cuidosa esposa concorde consigo,
para este desde cedo ao bem contrapesa o mal
constante. E quem acolhe uma de raça perversa
vive com uma aflição sem fim nas entranhas,
no ânimo, no coração, e incurável é o mal.
Não se pode furtar nem superar o espírito de Zeus
pois nem o filho de Jápeto o benéfico Prometeu
escapou-lhe à pesada cólera, mas sob coerção
apesar de multissábio a grande cadeia o retém.
A Titanomaquia
Tão logo o pai lhes teve ódio no ânimo
prendeu em poderosa prisão Briareu, Cotos e Giges
admirado da bem-armada bravura, aspecto
e tamanho, e meteu-os sob a terra de amplas vias.
Aí, doloridos sob a terra habitando
jaziam nos confins e fronteiras da grande terra
com longas angústias e grande mágoa no coração.
Mas o Cronida e os outros Deuses imortais
que Réia de belos cabelos pariu amada por Crono
restituíram-nos à luz por conselhos da Terra.
Ela lhes revelou clara e plenamente:
teriam com eles vitória e renome esplêndido.
Há muito combatiam com dolorosas fadigas
uns contra outros em violentas batalhas
os Deuses Titãs e quantos nasceram de Crono:
uns no alto Ótris — os Titãs magníficos —,
outros no Olimpo — os Deuses doadores de bens
que Réia de belos cabelos pariu amada por Crono.
Davam uns aos outros doloroso combate
em batalhas contínuas há dez anos cheios.
Nenhum final nem solução da áspera discórdia
de nenhum lado, ambíguo pairava o termo da guerra.
Mas quando àqueles ofereceu todo o sustento,
néctar e ambrosia que só os Deuses comem
no peito de todos cresceu o ânimo viril.
Após sorverem o néctar e a amável ambrosia
disse-lhes o pai dos homens e dos Deuses:
“Ouvi-me, filhos magníficos da Terra e do Céu,
que eu diga o que no peito o ânimo me ordena:
já há muitos anos, uns contra os outros,
todo dia combatemos pela vitória e poder
os Deuses Titãs e quantos nascemos de Crono.
Vós com grande violência e braços intocáveis
surgi contra os Titãs na lúgubre batalha,
lembrai a doce lealdade e quanto sofrestes
na prisão cruel antes de voltar à luz
por nossos desígnios, de sob a treva nevoenta”.
Assim falou. Respondeu o irrepreensível Cotos:
“Ó, portento, não o não sabido revelas: nós
sabemos que tens supremo cor e supremo espírito,
e repeliste dos imortais o mal horrendo;
por tua sabedoria, de sob a treva nevoenta
das prisões sem-mel, nós já sem esperanças
de volta viemos, ó rei filho de Crono.
Agora com rijo espírito e prudente vontade
defenderemos vosso poder na luta terrível
combatendo os Titãs na violenta batalha”.
Assim falou. Aprovaram os Deuses doadores de bens
a palavra ouvida. Ávido de guerra o ânimo
ainda mais, e despertaram o triste combate
todos — Deusas e Deuses — naquele dia:
os Deuses Titãs, quantos nasceram de Crono,
os que Zeus do Érebos sob a terra lançou à luz,
terríveis, poderosos, com bem-armada violência.
Deles eram cem braços que saltavam dos ombros
de cada um, cabeças de cada um cinqüenta
brotavam dos ombros sobre grossos membros.
Eles impuseram aos Titãs lúgubre batalha
agarrando íngremes pedras com os grossos braços.
Os Titãs defronte fortificavam as fileiras
com ardor. Ambos os lados mostravam obras
braçais violentas. Terrível mugia o mar infinito,
retumbava forte a terra, o vasto céu gemia
sacudido, no solo estremecia o alto Olimpo
sob golpes dos imortais, o abalo pesado atingia
o Tártaro nevoento, e o surdo estrondo de pés
de indizíveis assaltos e ataques brutais.
E uns contra outros lançavam dardos gemidosos,
vinda de ambos atinge o céu constelado
a voz exortante, e batiam-se com grande grito.
Não mais Zeus continha seu furor e deste
furor logo encheram-se suas vísceras e toda
violência ele mostrava. Do céu e do Olimpo
relampejando avançava sempre, os raios
com trovões e relâmpagos juntos voavam
do grosso braço, rodopiando a chama sagrada
densos. A terra nutriz retumbava ao redor
queimando-se, crepitou ao fogo vasta floresta,
fervia o chão todo e as correntes do Oceano
e o mar infecundo, o sopro quente atava
os Titãs terrestres, a chama atingia vasta
o ar divino, apesar de fortes cegava-os nos olhos
o brilhar fulgurante de raio e relâmpago.
O calor prodigioso traspassou o Caos. Parecia,
a ver-se com olhos e ouvir-se com ouvidos a voz,
quando Terra e o Céu amplo lá em cima
tocavam-se, tão grande clangor erguia-se
dela desabada e dele desabando-se por cima,
tal o clangor dos Deuses batendo-se na luta.
Os ventos revolviam o tremor de terra, a poeira,
o trovão, o relâmpago e o raio flamante,
dardos de Zeus grande, e levavam alarido e voz
ao meio das frentes, estrondo imenso erguia-se
da discórdia atroz. Mostrava-se o poder dos braços.
A batalha decai. Antes, uns contra outros
atacavam-se tenazes em violentas batalhas.
Na frente despertaram áspero combate
Cotos, Briareu e Giges insaciável de guerra.
Trezentas pedras dos grossos braços
lançavam seguidas e cobriram de golpes
os Titãs. E sob a terra de amplas vias
lançaram-nos e prenderam em prisões dolorosas
vencidos pelos braços apesar de soberbos,
tão longe sob a terra quanto é da terra o céu,
pois tanto o é da terra o Tártaro nevoenta.
Descrição do Tártaro
Nove noites e dias uma bigorna de bronze
cai do céu e só no décimo atinge a terra
e, caindo da terra, o Tártaro nevoento.
E nove noites e dias uma bigorna de bronze
cai da terra e só no décimo atinge o Tártaro.
Cerca-o um muro de bronze. A noite em torno
verte-se três vezes ao redor do gargalo. Por cima
as raízes da terra plantam-se e do mar infecundo.
Aí os Deuses Titãs sob a treva nevoenta
estão ocultos por desígnios de Zeus agrega-nuvens,
região bolorenta nos confins da terra prodigiosa.
Não têm saída. Impôs-lhes Posídon portas
de bronze e lado a lado percorre a muralha.
Aí Giges, Cotos e Briareu magnânimo
habitam, guardas fiéis de Zeus porta-égide.
Aí, da terra trevosa e do Tártaro nevoento
e do mar infecundo e do Céu constelado,
de todos, estão contíguos as fontes e confins,
torturantes e bolorentos, odeiam-nos os Deuses.
Vasto abismo, nem ao termo de um ano
atingiria o solo quem por suas portas entrasse
mas de cá para lá o levaria tufão após tufão
torturante, terrível até para os Deuses imortais
este prodígio. A casa terrível da Noite trevosa
eleva-se aí oculta por escuras nuvens.
Defronte, o filho de Jápeto sustem o Céu amplo
de pé, com a cabeça e infatigáveis braços
inabalável, onde Noite e Dia se aproximam
e saúdam-se cruzando o grande umbral
de bronze. Um desce dentro, outro vai
fora, nunca o palácio fecha a ambos,
mas sempre um deles está fora do palácio
e percorre a terra, o outro está dentro
e espera vir a sua hora de caminhar,
ele tem aos sobreterrâneos a luz multividente,
ela nos braços o Sono, irmão da Morte,
a Noite funesta oculta por nuvens cor de névoa.
Aí os filhos da Noite sombria têm morada,
Sono e Morte, terríveis Deuses, nunca
o Sol fulgente olha-os com seus raios
ao subir ao céu nem ao descer o céu.
Um deles, tranqüilo e doce aos homens,
percorre a terra e o largo dorso do mar,
o outro, de coração de ferro e alma de bronze
não piedoso no peito, retém quem dos homens
agarra, odioso até aos Deuses imortais.
Defronte, o palácio ecoante do Deus subterrâneo
o forte Hades e da temível Perséfone
eleva-se. Terrível cão guarda-lhe a frente
não piedoso, tem maligna arte: aos que entram
faz festas com o rabo e ambas as orelhas,
sair de novo não deixa: à espreita
devora quem surpreende a sair das portas.
Aí habita a Deusa detestada dos imortais
terrível Estige, filha do Oceano refluente
a mais velha, longe dos Deuses em ilustre palácio
coberto de altas pedras, todo ao redor
com as colunas de prata se apóia no céu.
Pouco a filha de Espanto Íris de ágeis pés
aí vem mensageira sobre o largo dorso do mar:
quando briga e discórdia surgem entre imortais
e se um dos que têm o palácio Olímpio mente
Zeus faz Íris trazer o grande juramento dos Deuses
num jarro de ouro, a longe água de muitos nomes
fria. Ela precipita-se da íngreme pedra
alta. E abundante sob a terra de amplas vias
do rio sagrado flui pela noite negra,
braço do Oceano, décima parte ela constitui:
nove envolvem a terra e o largo dorso do mar
com rodopios de prata e depois caem no sal,
ela só proflui da pedra, grande pena aos Deuses.
Dos imortais que têm a cabeça nivosa do Olimpo
quem espargindo-a jura um perjúrio
jaz sem fôlego por um ano inteiro,
nem da ambrosia e do néctar se aproxima
para comer, jaz porém sem alento nem voz
num estendido leito e mau torpor o cobre.
Quando a doença perfaz um grande ano,
passa de uma a outra prova mais áspera:
nove anos afasta-se dos Deuses sempre vivos,
nem freqüenta conselho nem banquetes
nove anos a fio. No décimo freqüenta de novo
reuniões dos imortais que têm o palácio Olímpio.
Tal juramento os Deuses fizeram de Estige imperecível
água ogígia que brota de abrupta região.
Aí, da terra trevosa e do Tártaro nevoento
e do mar infecundo e do céu constelado,
de todos, estão contíguos as fontes e confins,
torturantes e bolorentos, odeiam-nos os Deuses.
Aí resplandentes portas e umbral de bronze
inabalável, embutidos em raízes contínuas
nascido de si mesmo. Defronte, longe dos Deuses
os Titãs habitam além do Caos sombrio.
Os ínclitos aliados de Zeus estrondante
habitam um palácio no alicerce do Oceano,
Cotos e Giges, a Briareu por sua bravura
o gravitroante Treme-terra fez seu genro,
deu-lhe por esposa sua filha Anda-onda
A luta contra Tifeu
E quando Zeus expulsou do céu os Titãs,
Terra prodigiosa pariu com ótimas armas Tifeu
amada por Tártaro graças a áurea Afrodíte.
Ele tem braços dispostos a ações violentas
e infatigáveis pés de Deus poderoso. Dos ombros
cem cabeças de serpente, de víbora terrível,
expeliam línguas trevosas. Dos olhos
sob cílios nas cabeças divinas faiscava fogo
e das cabeças todas fogo queimava no olhar.
Vozes havia em todas as terríveis cabeças
a lançar vário som nefasto: ora falavam
como para Deuses entender, ora como
touro mugindo de indômito furor e possante voz,
ora como leão de ânimo impudente,
ora símil a cadelas, prodígio de ouvir-se,
ora assobiava a ecoar sob altas montanhas.
Naquele dia suas obras seriam incombatíveis
e ele sobre mortais e imortais teria reinado
se não o visse súbito o pai de homens e Deuses
e trovejou grave e duro. A terra em torno
retumbou tremenda, o céu amplo lá em cima,
o mar, as correntezas do Oceano e o Tártaro.
Sob os pés imortais estremece o alto Olimpo
com o ímpeto do rei e geme a terra.
Penetrava o mar víoláceo o calor de ambos,
de trovão, relâmpago, fogo vindo do prodigioso ser,
de furacões, ventos e do raio flamante.
Fervia toda a terra, céu e mar,
saltavam em volta dos cabos altas ondas
sob golpes dos imortais, irreprimível abalo cresce,
tremem Hades lá embaixo rei dos mortos
e Titãs no Tártaro em torno de Crono
pelo irreprimível clangor e pavorosa luta.
Zeus encrista seu furor, agarra as armas,
o trovão, o relâmpago e o raio flamante,
e fere-o saltando do Olimpo. Fulmina em torno
todas as cabeças divinas do terrível prodígio.
E ao dominá-lo açoitando com os golpes
mutila e abate-o, e geme a terra prodigiosa.
Do rei fulminado a chama jorra
nos vales não visíveis rugosos das montanhas,
golpeando. E vasta queima-se a terra prodigiosa
com bafo divino e fundia-se com o estanho
pela arte de homens em perfurado crisol
aquecido, ou o ferro que é mais possante
nos vales dominado pelo fogo ardente
funde-se no chão divino por obra de Hefesto,
assim fundia-se a terra ao brilhar do fogo aceso.
Com afligente ânimo atirou-o ao largo Tártaro.
De Tifeu vem o furor dos ventos que sopram úmidos,
não Notos, Bóreas e Zéfiro clareante,
estes vêm de Deuses, grande valia dos mortais,
os outros sopram às cegas sobre o mar
e, ao caírem no alto-mar cor de névoa,
impetuam ruim procela, grande ruína dos mortais.
Eles sopram diversos, dispersam os navios,.
perdem os nautas, e não têm resistência ao mal
os homens que os encontram pelo mar,
e pela terra sem-fim e florida eles perdem
os campos amáveis dos homens nascidos no chão
atulhando-os de pó e de doloroso turbilhão.
Os Deuses Olímpios
Quando os venturosos completaram a fadiga
e decidiram pela força as honras dos Titãs,
por conselhos da Terra exortavam o Olímpio
longividente Zeus a tomar o poder e ser rei
dos imortais. E bem dividiu entre eles as honras.
Zeus rei dos Deuses primeiro desposou Astúcia
mais sábia que os Deuses e os homens mortais.
Mas quando ia parir a Deusa de olhos glaucos Atena,
ele enganou suas entranhas com ardil,
com palavras sedutoras, e engoliu-a ventre abaixo,
por conselhos da Terra e do Céu constelado.
Estes lho indicaram para que a honra de rei
não tivesse em vez de Zeus outro dos Deuses perenes:
era destino que ela gerasse filhos prudentes,
primeiro a virgem de olhos glaucos Tritogênia
igual ao pai no furor e na prudente vontade,
e depois um filho rei dos Deuses e homens
ela devia parir dotado de soberbo coração.
Mas Zeus engoliu-a antes ventre abaixo
para que a Deusa lhe indicasse o bem e o mal.
Após desposou Têmis luzente que gerou as Horas,
Eqüidade, Justiça e a Paz viçosa
que cuidam dos campos dos perecíveis mortais,
e as Partes a quem mais deu honra o sábio Zeus,
Fiandeira Distributriz e Inflexível que atribuem
aos homens mortais os haveres de bem e de mal.
Eurínome de amável beleza virgem de Oceano
terceira esposa gerou-lhe Graças de belas faces:
Esplendente, Agradábil e Festa amorosa,
de seus olhos brilhantes esparge-se o amor
solta-membros, belo brilha sob os cílios o olhar.
Também foi ao leito de Deméter nutriz
que pariu Perséfone de alvos braços. Edoneu
raptou-a de sua mãe, por dádiva do sábio Zeus.
Amou ainda Memória de belos cabelos,
dela nasceram as Musas de áureos bandôs,
nove, a quem aprazem festas e o prazer da canção.
Leto gerou Apoio e Ártemis verte-flechas,
prole admirável acima de toda a raça do Céu,
gerou unida em amor a Zeus porta-égide.
Por último tomou Hera por florescente esposa,
ela pariu Hebe, Ares e Ilitía
unida em amor ao rei dos Deuses e dos homens.
Ele da própria cabeça gerou a de olhos glaucos
Atena terrível estrondante guerreira infatigável
soberana a quem apraz fragor combate e batalha.
Hera por raiva e por desafio a seu esposo
não unida em amor gerou o ínclito Hefesto
nas artes brilho à parte de toda a raça do Céu.
De Anfitrite e do troante Treme-terra
nasceu Tritão violento e grande que habita
no fundo do mar com sua mãe e régio pai
um palácio de ouro. E de Ares rompe-escudo
Citeréia pariu Pavor e Temor terríveis
que tumultuam os densos renques de guerreiros
com Ares destrói-fortes no horrendo combate,
e Harmonia que o soberbo Cadmo desposou.
Maia filha de Atlas após subir no leito sagrado
de Zeus pariu o ínclito Hermes arauto dos imortais.
Sêmele filha de Cadmo unida a Zeus em amor
gerou o esplêndido filho Dioniso multialegre
imortal, ela mortal. Agora ambos são Deuses.
Alcmena gerou a força de Heracles
unida em amor a Zeus agrega-nuvens.
Esplendente a mais jovem Graça, Hefesto
o ínclito Pés-tortos desposou-a florescente.
Dioniso de áureos cabelos à loira Ariadne
virgem de Minos tomou por esposa florescente
e imortal e sem-velhice tornou-a o Cronida.
A Hebe, o filho de Alcmena de belos tornozelos
valente Heracles após cumprir gemidosas provas
no Olimpo nevado tomou por esposa veneranda,
filha de Zeus grande e Hera de áureas sandálias;
feliz ele, feita a sua grande obra, entre imortais
habita sem sofrimento e sem velhice para sempre.
Do Sol incansável a ínclita Oceanina
Perseida gerou Circe e o rei Eetes
Eetes, filho do Sol ilumina-mortais,
desposou a virgem do Oceano rio circular
Sábia de belas faces, por desígnios dos Deuses.
Ela pariu Medéia de belos tornozelos,
subjugada em amor graças à áurea Afrodite.
Alegrai agora, habitantes do palácio Olímpio,
ilhas e continentes e o salgado mar no meio.
Cantai agora a grei de Deusas, vós de doce voz
Musas olimpíades virgens de Zeus porta-égide:
quantas deitando-se com homens mortais
imortais pariram filhos símeis aos Deuses.
Deméter divina entre Deusas gerou Riqueza,
unida em amores ao herói Jasão sobre a terra
três vezes lavrada na gorda região de Creta.
Boa Riqueza por terra e largo dorso do mar
anda e a quem encontra e chega às mãos
ela torna próspero e dá muita opulência.
De Cadmo, Harmonia filha de áurea Afrodite
gerou Ino, Sêmele, Agave de belas faces,
Sagacidade esposa de Aristeu de crina profunda,
e Polidoro na bem-coroada Tebas.
Virgem de Oceano, pela multiáurea Afrodite
unida em amor a Aurigládio de violento ânimo,
Belaflui pariu o mais poderoso dos mortais,
Gerioneu, a quem matou a força de Heracles
pelos bois sinuosos na circunfluida Eritéia.
De Titono, Aurora pariu Ménon de brônzeo elmo
rei dos etíopes e o príncipe Emátion.
De Céfalo, deu à luz um esplêndido filho,
o forte Fulgêncio, homem símil aos Deuses:
na tenra flor de gloriosa juventude
a Sorridente Afrodite arrebatou-o e levou-o
ainda criança e dele no sagrado templo
fez o guardião interior, nume divino.
Virgem do rei Eetes sustentado por Zeus,
o Esonida por desígnios dos Deuses perenes
levou-a de Eetes após cumprir gemidosas provas,
as muitas impostas pelo grande rei soberbo
o insolente Pélias estulto e de obras brutais.
Cumpriu-as, e chegou a Iolcos após muito penar
o Esonida, levando em seu navio veloz a
virgem de olhos vivos, e desposou-a florescente.
Ela, submetida a Jasão pastor de homens,
pariu Medéio, criou-o nas montanhas Quíron
Filirida, e cumpriu-se o intuito do Grande Zeus.
E as virgens de Nereu, o Ancião marino:
Arenosa divina entre as deusas gerou Foco
amada por Éaco graças à áurea Afrodite;
submetida a Peleu a Deusa Tétis de pés de prata
gerou Aquiles rompe-falange e de leonino ânimo.
Gerou Enéias a bem-coroada Afrodite
unida ao herói Anquises em amores
nos cimos do Ida enrugado e ventoso.
Circe, filha de Sol Hiperionida,
amada por Odisseu de sofrida prudência, gerou
Ágrio, Latino irrepreensível e poderoso,
e pariu Telégono, graças à áurea Afrodite.
Bem longe, no interior de ilhas sagradas,
E eles reinam sobre os ínclitos tirrenos.
Calipso divina entre as Deusas em amores
unida a Odisseu gerou Nausítoo e Nausínoo.
Estas deitando-se com homens mortais
imortais pariram filhos símeis aos Deuses.
Cantai agora a grei de mulheres, vós de doce voz
Musas olimpíades virgens de Zeus porta-égide

Foto de damadapoesia

QUASE NADA

QUASE NADA

Nos soluços que trovejo
Entre relâmpagos me vejo
Nas dores do meu pranto
Nos desafinos do meu canto
E fere-me a saudade desvairada
E outras coisas vêm desencantadas
De quando em quando sei: inacabada
De tudo que fui...hoje sou quase nada!

Foto de cadino

(...)

Rebentos de ouro guiam a minha imaginação
Por sonhos humedecidos pelo gotejar criativo.
É uma sensação sublime e primordial.
Uma panóplia de cores ofuscantes,
guarnecidas por relâmpagos de dor.

Foto de lua sem mar

Epopeia de ti....

Epopeia de ti…
20 de maio de 2009

No céu sobe a lua, uma lua brilhante de expressão clara. No silêncio da noite vem uma música suave, um toque lento.
Aprecio a lua e as estrelas numa noite calma e fria de primavera, sentada na janela aconchegada aos meus joelhos mas, perdida por estas linhas e sombras de pensamento.
Chegas perto, muito perto de mim e me acaricias a nuca com tua mão suave, fecho os olhos e apenas sinto teu calor.
Acalmas as minhas tempestades, o bater forte do meu coração quando a chuva e os grandes ventos do norte alcançam o meu ser.
Chegas perto cheio de amor e palavras doces, pedes para chorar no teu ombro num grande abraço forte e caloroso de afectividade, pedes calma e serenas todos os meus demónios, fazes-me transbordar de alegria com tuas grandes palavras de amor e nas quantas vezes que o dizes ao meu ouvido.
Clamas à vida, à alegria de respirar, à vontade que tens de sentir as veias explodir de felicidade. Nada em ti é feito sem alegria, sem vontade, sem sonho. Porque tu és assim, um cálice vivo de vida que não se preocupando com quase nada, apenas queres ser feliz o maior tempo possível e para isso só tens de respirar.
Nos poemas que me dedicas, nas epopeias que me escreves são tantas as tuas cartas de amor, no teu desejo eterno de me teres a teu lado, no amor que sinto em cada palavra, cada linha das tuas grandes e valiosíssimas declarações, como eu as aprecio e estimo.
Acendes a tua chama de paixão e a demonstras das mais diversas formas, me possuis a mente com tua voz suave e conhecedora de tão conhecimento, apressas-me ao prazer absoluto de forma plena e tão suave. Aclamas amor eterno mas, impossível será te responder de forma tão grandiosa e sublime, tão forte sentimento que capaz será de virar o mundo. Tuas preces são à Deusa do amor, que ela me ilumine o coração e remexa tudo em mim para que eu seja capaz de sentir algo assim.
Mas são tuas as minhas poucas horas de sono, é no meu pensamento que te encontras antes do meu adormecer, e dai sai sublimes sonhos em que penetras com toda a tua alma e esplendor, nos sonhos lindos que com o meu príncipe sonho ter.
Ambos desconhecemos a palavra destino, o futuro só a nós cabe como o construir e viver de forma plena.
Apenas somos como dois barcos em alto oceano, enfrentando cada um as suas tempestades, mas, rumando cada um para seu lado, como quem brinca ao braço de ferro puxando uma fina corda.
Entrelaço-me nas dúvidas, nas incertezas, pela sereia que vagueia no mar, porque são só tuas as grandes noites de luar, dignas noites as minhas, sem uma estrela única a iluminar, aquele sonho que na verdade já não posso conquistar.
“Marinheiros e marinheiras levantar ancora e remar, ele pode sempre enviar a corda para me salvar.”
Mas meu coração enfraquece porque a sereia anda no mar e esta noite para ele é grande noite de luar, fico perto e tento observar se para mim haverá lugar e se a corda um dia vai chegar.
As minhas vagas no mar começam a aumentar, relâmpagos luminosos que me arrefecem, por teu mar chão estar repleto de luar e muita dedicação.
Penetro na escuridão e de tão longe apenas te aprecio, mais uma noite nossa com todo o desejo e esplendor, como um sino que reflecte o luar se expande e aloja nos corações dos mais apaixonados.
Encontro-me em ti, mas tuas mãos grandes e suaves, tua pele macia e morena num sonho que acordo molhada, estrela cadente que passa, um desejo que traço e tu apenas…
Falta pouco para no céu raiar a luz, preciso fugir ou apenas esconder, este grande amor que finjo não ter.
“Levantar ancora e remar, não preciso esconder-me porque tu sabes em que mar me encontrar, procura a maré à feição para o teu barco deslizar e no meu se encostar, para o nosso sonho de verdade se poder realizar…”
Declaras amor da proa à ré, sinto-me voar e o nosso sonho a se concretizar, salta para perto de mim, penetra o meu corpo, não me peças licença e agarra-me na tua mão, coloca as tuas grilhetas em mim, já estou presa a ti sem dó nem perdão, come do meu pão e destrói toda esta solidão.
Agarra-me sem medo de magoar e mostra a todo o mar as nossas musicas de embalar, nesta noite de luar. Estamos a alimentar o espírito, a alma sem perguntar ao coração se nos podemos amar, como uma só devoção é assim que quero ficar.
O luar me alcançou, sinto felicidade no teu olhar, meu corpo que explode de vontade, o desejo de apenas te amar!
Mas a sereia continua no mar, sempre a vaguear e no meu coração um grande tilintar de medo, não sou dona de ti e se um dia quiseres partir nada poderei fazer para impedir, meu coração que se divide não sei o que fazer. Poderei voltar às grandes noites sem luar, sem teu corpo para me acariciar e, na solidão me voltar a perder, não sei que decisão tomar e se realmente algum dia se vai realizar este meu desejo mais profundo, se perderei todo este medo algum dia, decidir o destino e o futuro não nos pertence, lutar nem sempre nos trás a vitoria, a certeza da grande felicidade.
Não me iludo mas não posso perder a esperança, a gota pequenina que ainda me faz viver, o sonho de te amar sem hora ou lugar e ate mudar minha forma de viver, amar, sonhar e sorrir, é em teu luar que encontro a minha serenidade, aquela que tanto me faz sorrir, vezes muitas me sinto perdida na escuridão, ajoelho-me e tento sentir o caminho espetando-me nos duros espinhos, nas pedras que a vida vai colocando para crescer e poder entender a vida de outra forma, com outros olhos.
Nas poucas horas que contigo estou, a felicidade é grande, a vontade é plena e o gosto o maior prazer que posso sentir.
Sinto-me confusa sem saber o que de verdade posso ou devo fazer, não te quero perder nem me afastar, apenas gostaria de poder concretizar o meu sonho, a minha vontade. Mas a vida é isso mesmo, um mar imenso de grandes ondas, com força muita que nos afasta do que realmente queremos. E ter meu amado que por mais perto que estejas, a longitude está sempre entre nós, embalo-me no vento que me leva ate ti, mas mesmo assim não te consigo abraçar e olhar como tanto desejo.
Longas noites em que o frio aperta e o sono recusa a chegar, na mente a incógnita do futuro, os problemas presentes, a resolução onde a encontrar, como agir, o que de verdade fazer. Noites essas que me perco nos pensamentos olhando a lua e todas as suas amigas estrelinhas que também vão brilhando no céu, fazendo-me total companhia no silêncio da noite. O tocar do sino que rompe o silencio dizendo-me que já não falta tudo para o amanhecer de um novo dia em que, mais uma vez não sabemos como será, de que forma o construir e viver…
jinho

Foto de Rozeli Mesquita - Sensualle

Chuva de Beijos

Garoa fina que toca a pele
Lábios quentes tocam a boca
Tempestade de desejos...que beijo!

Chuva de beijos molhando meu corpo
Raios, relâmpagos e trovões
Meus desejos tem teu rosto...que gosto!

Caia teu corpo no meu e aqueça

Enlaça tua boca na minha...enlouqueça

Foto de Fernando Almada

O simples dizer que te amo

te direi
das vozes líquidas de oceanos em efervescência
nos gestos e sinais do navegador aflito
de noites emplumadas inseminando musgos nos jardins
de andorinhas em vertigem nos rituais de passagem
de prematuras primaveras
de besouros dourados a caminho do fogo do poente
do eretismo dos estames nas flores em pleno cio
das canções pastoris dos relâmpagos de verão nas campinas
do vento selvagem e sua sábia ternura com ramagens apaixonadas
do cromatismo das escamas de um fruto verde em vôo aberto
da luz fátua das estrelas tímidas em viagem
pelas últimas estações da madrugada
do mistério da germinação das sementes
em tardes habitadas por lembranças
te direi mais tarde simplesmente
que te amo

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