Foto de Jardim

eu já conheço os passos dessa estrada

eu já conheço
os passos dessa estrada
pela cidade esquiva.
vejo suas indignações,
suas traições,
seus gritos abafados,
sua imensa idade,
sua profanação.
conheço suas acusações,
suas necrópoles,
suas ruas insepultas,
sua arrogância e a aspereza
de sua alma.

eu já conheço
os passos dessa estrada.
cidade furtiva,
ultrajante,
medíocre.
sem compaixão devoras
o que não te decifra.
os credos, o espanto
aqui fundiram-se
em raças, mentiras, mitos,
inexplicáveis farsas e doutrinas.

eu já conheço
os passos dessa estrada.
cidade austera,
teus monstros
armados até os dentes
com fuzis e baionetas
já não assustam.
corrompidas trevas
a se moverem
por tuas rápidas trilhas,
por teus becos obscuros.

eu já conheço
os passos dessa estrada.
cidade arrogante
em tua torre de marfim
estão impressos
teus segredos,
desvendam tua face
ornada de vaidade,
acalenta
tua indignidade.

eu já conheço
os passos dessa estrada.
qual teu destino?
qual a parcela
de tua grandeza?
uníssona e tardia
digeres
tuas crias.
por tuas calçadas
nos resta suportar
tua esplêndida virulência.
ó cidade profana
o vento que nos varre
é o mesmo que nos traz o amanhã.

Foto de Jardim

chernobyl

1.
sons de violinos quebrados vinham das montanhas,
uivos de lobos noturnos,
varriam as imagens das imaculadas ninfas
enquanto se ouviam as vozes dos náufragos.
o príncipe das trevas desceu disfarçado de clown,
bailava num festim de sorrisos e sussurros.
a nuvem envolvia a cidade com seus círculos febris,
se dissolvia nas ruas em reflexos penetrantes,
coisa alguma nos rios, nada no ar e sua fúria
era como a de um deus rancoroso e vingativo.
a morte com seus remendos, oxítona e afiada,
distribuía cadáveres, penetrava nos ossos, na pele,
nos músculos, qualquer coisa amorfa,
alegoria da inutilidade das horas.
agora este é o reino de hades
os que um dia nasceram e sabiam que iam morrer
vislumbravam o brilho estéril do caos que agora
acontecia através del siglo, de la perpetuidad,
debaixo deste sol que desbota.
o tempo escorre pelos escombros,
o tempo escoa pelos entulhos de chernobyl.

2.
meu olhar percorre as ruas,
meus passos varrem a noite, ouço passos,
há um cheiro de sepultura sobre a terra úmida,
um beijo frio em cada boca, um riso
estéril mostrando os dentes brancos da morte.
não foram necessários fuzis ou metralhadoras.
mas ainda há pássaros
que sobrevoam as flores pútridas.
aqueles que ainda não nasceram são santos,
são anjos ao saudar a vida diante da desolação
sob este céu deus ex machna.
aos que creem no futuro
restaram sombras, arcanos, desejos furtados,
resta fugir.
uma nuvem de medo, ansiedade e incerteza
paira sobre o sarcófago de aço e concreto da usina.
asa silente marcando o tempo
que já não possuímos.
pripyat, natureza morta, vista através das janelas
de vidro dos edifícios abandonados
sob um sol pálido, ecos do que fomos
e do que iremos ser.
pripyat, ponto cego, cidade fantasma,
os bombeiros e suas luvas de borracha e botas
de couro como relojoeiros entre engrenagens
naquela manhã de abril, os corvos
seguem em contraponto seu caminho de cinzas
sob o céu de plutônio de chernobyl.

3.
e se abriram os sete selos e surgiram
os sete chifres da besta,
satélites vasculham este ponto à deriva, seu nome
não será esquecido, queimando em silêncio.
os quatro cavaleiros do apocalipse e seus cavalos
com suas patas de urânio anunciam
o inferno atômico semeando câncer
ou leucemia aos filhos do silêncio.
os cães de guerra ladram no canil
mostrando seus dentes enfileirados, feras famintas,
quimeras mostrando suas garras afiadas,
como aves de rapina, voando alto,
lambendo o horizonte, conquistando o infinito.
eis um mundo malfadado povoado por dragões,
a humanidade está presa numa corrente sem elo,
sem cadeado, enferrujada e consumida pela radiação.
vidas feitas de retalhos levadas pelo vento
como se fossem pó, soltas em um mundo descalço.
vidas errantes, como a luz que se perde no horizonte,
deixam rastros andantes, vidas cobertas de andrajos,
grotescas, vidas famintas e desgastadas,
que dormem
ao relento nas calçadas e que amanhecem úmidas
de orvalho, vidas de pessoas miseráveis,
criaturas infelizes, que só herdaram
seus próprios túmulos em chernobyl.

4.
mortífera substância poluente, complexa,
realeza desgastada que paira nos ares
da pálida, intranquila e fria ucrânia
envolta no redemoinho dos derrotados.
gotas de fel caindo das nuvens da amargura,
sobre a lama do desespero, sobre o vazio
da desilusão, no leito do último moribundo.
cacos, pedras, olhos mortiços, rastros cansados,
inúteis, o sol das estepes murchou as flores
que cultivávamos, descolorindo nossas faces.
seguem os pés árduos pisando a consciência
dos descaminhos emaranhados da estrada,
na balança que pesa a morte.
no peso das lágrimas, que marcaram o início da dor,
restos mortais, ossos ressecados, sem carne,
devorados pela radiação, almas penadas
no beco maldito dos condenados, herdeiros
da abominação, mensageiros da degradação,
horda de náufragos, legião de moribundos.
o crepúsculo trouxe o desalento e as trevas, a vida
agora é cinza do nada, são almas penadas que fazem
a viagem confusa dos vencidos em chernobyl.

5.
ainda ouvimos os gritos daqueles que tombaram,
e os nêutrons sobre a poeira fina dos vales,
os pés descalços sobre pedras pontiagudas,
ainda ouvimos o choro das pálidas crianças,
a fome, a sede e a dor,
o estrôncio-90, o iodo-131, o cesio-137.
vazios, silêncios ocos, perguntas sem respostas,
degraus infernais sobre sombras, rio de águas turvas,
quimera imunda de tanta desgraça,
fantasia desumana sem cor,
transportas tanto mal, conduzes a todos
para a aniquilação neste tempo em que nada sobra,
em que tudo é sombra, é sede, é fome, é regresso,
neste tempo em que tudo são trevas,
onde não há luz.
cruzes no cemitério, uma zona de sacrifício,
sob um céu sem nuvens,
a morte em seu ponto mutante.
no difícil cotidiano de um negro sonho,
restaram a floresta vermelha,
e os javalis radioativos de chernobyl.

Foto de Jardim

restaram

restaram
estes olhos letárgicos
que não enxergam mais horizontes,
esta casa desmantelada,
estes poemas silenciados,
esta taça trincada,
esta familiaridade com o vazio,
repetitivo,
submisso,
esta escassez de palavras e vozes,
esta beatitude,
este corpo exausto de perseguir o não vivido
e esta alma descrente do eterno.

restaram
estas ruas onde caminho trôpego,
este medo de tudo,
esta aptidão em atirar
na lata de lixo
aquilo que já passou.

restaram
estas mãos fracas,
paradas e frias e mortas,
estes relógios
feitos de segundas-feiras,
estas pilhas de imposições
acordos, pactos,
esta falta de sono,
esta extrema unção.

Foto de Jardim

caminho por campos noturnos

1.

caminho por campos noturnos,
vagueio entre muros soturnos,
cruzo esquinas de solidão
que sufocam a minha canção.

a melodia escapa no descompasso
do meu sorriso escasso:
me acompanham nesta invenção
meus passos e minha canção.

me perco em campos escuros,
ruas de imprevisíveis futuros,
me afogo na desunião
entre meus pés e a canção.

busco a música que existe
com sua melodia líquida e triste
nas pontas frágeis dos meus dedos,
nos meus lábios amargos de segredos.

2.

nada tenho
além desta vida
que me resta.

não existem caminhos,
somente meus pés
sobre o asfalto.

nesta rude viagem
que inicio
rumo ao desencanto

não há o que contemplar,
minha incerteza
é meu único guia.

fonte, fogo ou rosas,
o que me espera
além da noite?

3.

piso com meus pés indigentes o enigma
que o universo expõe e sobre o caos me apoio.
piso a manhã desmantelada sobre o asfalto
da cidade ruída.

queria percorrer a todo custo a origem
da admirável magia porém apenas me acovardo
e desmorono e tudo o que resta é a dissolução
do enigma que busco.

Foto de Rosamares da Maia

SONETO DO DESEJO

Soneto do desejo

Os teus olhos, onde estão teus olhos?
Olhos maliciosos, sempre inconvenientes.
Traduzindo vontades, todas indecentes.
Olhar que me despe tão completamente.
Onde está a boca que sempre mente?
Que beija e prende minha boca a tua.
Tenho saudades do ar que te cheira,
Do exalar loção de âmbar e madeira.
Impregnando meu corpo e o travesseiro.
Quero teu abraço aberto de corpo inteiro.
Meu corpo arranhado, assanhado e aceso.
Onde está tua boca que a minha deseja?
Tenho saudades de olhos que me despem
Rolo na cama - boca volta, me beija, beija.

Rosamares da Maia - 31 de maio 2017

Foto de tonyramos

Se Não Houver Outro Amanhã

Quando um novo amanhã chegou
Eu estava dormindo e não vi o sol nascer
Acordei e deixei na cama as decepções
E as lagrimas que o travesseiro absorveu
Sei que a metade do meu dia já se foi
Momentos que deixei de viver
Vejo um dia com nuvens cinzentas
E o sol querendo se esconder
Relâmpagos que propaga no espaço
Anunciando que em breve ira chover

Não ouço nenhum pássaro cantando
Mas da janela vejo um lindo jardim
As flores estão todas alegres
Com o vento bailando e sorrindo pra mim
Quase esquecido esta o meu ontem
O meu hoje em breve chegara ao fim
Ainda encoberto esta o amanhã
Poderei não ter outra chance assim

Sentado na minha cadeira
Sozinho então começo a pensar
Vejo uma multidão indo e vindo
Lutando para os seus ideais realizar
Muitos estão alegres e outras tristes
Que daria tudo para estar em meu lugar
Antes que o dia termine
Ainda há tempo para sorrir e sonhar
Se não houver outro amanhã
Hoje pelos meus sonhos vou lutar
Amanha poderei estar dormindo
E desse sono não mais acordar.

27/05/2017 tonyramos

Foto de annytha

AMOR DISTANTE, MAS AMOR

AMOR DISTANTE, MAS É AMOR!!!
Meu amor,,,
Existe um Oceano que nos separa e por isso, eu não posso te alcançar para a cada momento eu pudesse te abraçar quando eu quisesse, para tocar a tua pele, para beijar-te com loucura, sentir o pulsar dos nossos corações, nossos respirações ofegantes, e sentirmos nossos corpos trêmulos de paixão e desejos ... Oh meu amado, mal posso esperar que esse dia chegue e possamos por em prática, tudo o que sonhamos nessa longa espera.. .Espero-te sentada a beira do caminho, com o olhar longe para ver-te chegar para mim, abanando tua sua mão, para que eu te veja chegando e eu com toda a inquietação e ansiedade, finalmente, vou poder abraçar-te por inteiro, em seguida, sairemos para um lugar reservado para nós, onde só os amantes e apaixonados conhecem onde falaremos a linguagem do amor; um lugar sublime , e com a promessa de um novo amanhã ...

Foto de marco aurelio castro neto

MULHER AROMA DE MULHER

QUANDO PASSA, DEIXA NO AR SEU PERFUME.
NÃO É NENHUMA FRAGRÂNCIA QUALQUER.
É PERFUME DE MULHER,
ADOCICADOS EMBRIAGANTES.
POR ONDE VAI DEIXA A CERTEZA DE UMA DIVA PERFEITA,
DE SI LUETA.
HORAS LARGAS, HORAS FINAS.
SUA IDADE NÃO INTERESSA, SOMENTE SUA BELEZA DE MULHER,
UM PERFUME PRÓPRIO, INCONFUNDÍVEL,
PORQUE SABE SER A MAIS BELA,
COMPARADA A UMA LINDA FLOR RUBRA DE INTENSO CALOR.
MULHER AROMA DE MULHER, SEUS DIAS E INFINITO.
SUA COR PODE SER NEGRA,BRANCA,VERMELHA MAS SEU AROMA É MULHER...
Marco Aurélio Castro Neto

Foto de marco aurelio castro neto

DEMOREI VOLTEI PARA VOCÊ

DEMOREI SETE ANOS E FINALMENTE VOLTEI,
ESQUECIDO ESTAVA, LEMBRANÇAS,
LEMBRAVA...
DE UM TEMPO, EM QUE MEU CORAÇÃO VIBRAVA,POR CONHECER VOCÊ.
SOU O ULTIMO QUE RESTOU CRIEI VOCÊ ENTREGUEI,
DE BANDEJA E QUANDO VI, NÃO DERAM CONTINUIDADE AO TRABALHO
DE UM LOUCO APAIXONADO.
DESLUMBRO DENTRO DE MIM UM CORAÇÃO VIVIDO ESQUECIDO PELO AMOR.
CULPA DE UM POETA SOLITÁRIO, QUE ATI CRIEI.
ESTA CRESCIDA DESLUMBRANTE UM BLOG, HOJE FALANTE,
AOS QUATRO CANTOS DO MUNDO POSSO SENTIR O CORAÇÃO DE CADA POETA
QUE AQUI PASSOU E DEIXOU, UMA PARTE DE SUAS LEMBRANÇAS, DE CRIANÇAS.
HOJE HÁ ESPERANÇA DE CONTINUAR ESCREVENDO E CANTANDO O AMOR...
Marco Aurélio Castro Neto

Foto de Rosamares da Maia

O Circo de Dayse

O Circo de Dayse

Palhaço solitário deserdado, sem circo,
Faz da vida a piada, lona e picadeiro.
Malabarista por destino desengonçado,
Dribla a falta do cenário, ensaia e encena.

O seu texto? A comédia diária da sua vida.

Trapezista sobrevivente do dia a dia se atira,
Sem rede, com medo, sem prumo, sem rumo.
Em baixo o pesadelo na garganta dos leões.
Queda livre, pirueta ousada, abuso fatal.

Bem próximo de ser devorado, no quase,
Cai em sono profundo embalado no riso,
Ouve as gargalhadas das crianças. Dorme feliz.
Sonha com as peripécias da vida de palhaço

Salvação atrapalhada, de muitas trapalhadas.
Sonha com o seu quarto – O que nunca teve.
Vê janelas pintadas de azul, viradas para o sol.
Um quarto branco com duas amplas portas.

Uma a da entrada, a outra a salvação da saída.

Quando entra é Arlequim, dor e lágrimas,
Palhaço insosso e triste de um mundo que pesa.
Quando sai é palhaço da periferia, nome Alegria.
Canta, rola cambalhotas na grama verde.

Vê o céu, janela azul e irreverente faz careta,
Reverências para uma plateia que o espera.
...Senhoras e Senhores – Tam, taram, tam tam!,
Que rufem os tambores!

“E o Palhaço o que é?...Hoje tem sim senhor!”
Acorda! Vamos palhaço! O show é a vida.
E o espetáculo vai recomeçar.

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