amor

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A uns olhos negros (Francisco de Vasconcelos)

Olhos negros, que da alma sois senhores

Duvido com razão desse atributo,

Que é muito, que quem mata, traga o luto,

E é muito ver na noite resplendores.


Se de negros, meus olhos, tendes cores,

Como as almas vos dão hoje tributo,

Quem viu que os negros com rigor astuto

Os brancos prendam com grilhões traidores.

Mas ah, que foi discreta providência

O fazê-los da cor da minha sorte,

Por não sentir rigor tão desabrido.

Para que veja assim toda a prudência

Que foi prodígio grande, e pasmo forte,

Em duas noites ver o Sol partido.

Francisco de Vasconcelos (1665-1723)

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Aquela nunca vista formosura (António Ferreira)

Aquela nunca vista formosura,

Aquela viva graça e doce riso,

Humilde gravidade e alto aviso,

Mais divina que humana real brandura.


Aquela alma inocente e sábia e pura

Que entre nós cá fazia um paraíso,

Ante os olhos a trago e lá a diviso

No céu triunfar da morte e sepultura.

Pois por quem choro, triste? Por quem chamo

Sobre esta pedra dura a meus gemidos,

Que nem me pode ouvir nem me responde?

Meus suspiros nos céus sejam ouvidos;

E enquanto a clara vista se me esconde,

Seu despojo amarei, amei e amo.

António Ferreira (1528-1569)

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Endechas a Bárbara Escrava (Luís de Camões)

Aquela cativa

Que me tem cativo,

Porque nela vivo

Já não quer que viva.

Eu nunca vi rosa

Em suaves molhos,

Que para meus olhos

Fosse mais formosa.



Nem no campo flores,

Nem no céu estrelas

Me parecem belas

Como os meus amores.

Rosto singular,

Olhos sossegados,

Pretos e cansados,

Mas não de matar.

Uma graça viva,

Que neles lhe mora,

Para ser senhora

De quem é cativa.

Pretos os cabelos,

Onde o povo vão

Perde opinião

Que os louros são belos.

Pretidão de Amor,

Tão doce a figura,

Que a neve lhe jura

Que trocara a cor.

Leda mansidão,

que o siso acompanha;

Bem parece estranha,

Mas bárbara não.

Presença serena

Que a tormenta amansa;

Nela, enfim, descansa

Toda a minha pena.

Esta é a cativa

Que me tem cativo,

E, pois nela vivo,

É força que viva.

Luís de Camões (1524-1580)

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Transforma-se o amador na cousa amada (Luís de Camões)

Transforma-se o amador na cousa amada,

Por virtude do muito imaginar;

Não tenho logo mais que desejar,

Pois em mim tenho a parte desejada.



Se nela está minha alma transformada,

Que mais deseja o corpo de alcançar?

Em si somente pode descansar,

Pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,

Que, como o acidente em seu sujeito,

Assim como a alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia;

E o vivo e puro amor de que sou feito,

Como matéria simples busca a forma.

Luís de Camões (1524-1580)

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Busque Amor novas artes, novo engenho (Luís de Camões)

Busque Amor novas artes, novo engenho,

Para matar-me, e novas esquivanças,

Que não pode tirar-me as esperanças,

Que mal me tirará o que eu não tenho.


Olhai de que esperanças me mantenho!

Vede que perigosas seguranças!

Que não temo contrastes nem mudanças,

Andando em bravo mar, perdido lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto

Onde esperança falta, lá me esconde

Amor um mal que mata e não se vê;

Que dias há que na alma me tem posto

Um não sei quê, que nasce não sei onde,

Vem não sei como, e dói não sei porquê.

Luís de Camões (1524-1580)

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Amor é fogo que arde sem se ver (Luís de Camões)

Amor é fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer;


É um não querer mais que bem querer;

É solitário andar por entre a gente;

É nunca contentar-se de contente;

É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;

É servir a quem vence, o vencedor;

É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor

Nos corações humanos amizade,

Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões (1524-1580)

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Alma minha gentil, que te partiste (Luís de Camões)

Alma minha gentil, que te partiste

Tão cedo desta vida, descontente,

Repousa lá no Céu eternamente

E viva eu cá na terra sempre triste.


Se lá no assento etéreo, onde subiste,

Memória desta vida se consente,

Não te esqueças daquele amor ardente

Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te

Alguma cousa a dor que me ficou

Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,

Que tão cedo de cá me leve a ver-te,

Quão cedo de meus olhos te levou.

Luís de Camões (1524-1580)

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Cantiga, Partindo-se (João Roiz de Castelo Branco)

Senhora, partem tão tristes

Meus olhos, por vós, meu bem,

Que nunca tão tristes vistes

Outros nenhuns por ninguém.


Tão tristes, tão saudosos,

Tão doentes da partida,

Tão cansados, tão chorosos,

Da morte mais desejosos

Cem mil vezes que da vida.

Partem tão tristes os tristes,

Tão fora de esperar bem,

Que nunca tão tristes vistes

Outros nenhuns por ninguém.

João Roiz de Castelo Branco (século XV)

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Saudades (D. Francisco Manuel de Melo)

Serei eu alguma hora tão ditoso,

Que os cabelos, que amor laços fazia,

Por prémio de o esperar, veja algum dia

Soltos ao brando vento buliçoso?

Verei os olhos, donde o sol formoso

As portas da manhã mais cedo abria,

Mas, em chegando a vê-los, se partia

Ou cego, ou lisongeiro, ou temeroso?



Verei a limpa testa, a quem a Aurora

Graça sempre pediu? E os brancos dentes,

Por quem trocara as pérolas que chora?

Mas que espero de ver dias contentes,

Se para se pagar de gosto uma hora,

Não bastam mil idades diferentes?

D. Francisco Manuel de Melo (1608-1666)

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