Blog de Sonia Delsin

Estarei na Bienal do Livro de 12 a 22 de agosto, em São Paulo, com meu livro de contos GUARDADO NO CORAÇÃO.

Antes que eu nascesse...
Antes que eu crescesse...
Antes.
Muito antes.
Eu era uma idéia.
Um projeto.
De lá eu pensava.
Quanto vale um teto?
Vale.
Vale muito.
Mais ainda quando nele existe amor.
Escolhi calmamente.
Meu nascer seria diferente.
E foi.
Antes que eu nascesse pensei.
Quanto importa uma família?
É o fundamento.
Vim preparada?
Aqui existe muito sofrimento?
E existe sentimento.
Uma hora é alegria, outra é tormento.
Mas eu pedi este coração.
Coração de poeta.
Eu pedi a pena.
Tudo vale a pena.
Se o mesmo caminho eu estaria disposta a seguir?
Creio que sim.
Foi a estrada da minha construção.
Antes que eu nascesse já conhecia minha missão.

Embaixo das cobertas minhas mãos deslizam.
As cobertas alisam.
Penso.
Num homem que vive distante de mim.
Penso.
É amor.
Que outra explicação poderia existir?
Depois que o conheci minha vida mudou.
Além do horizonte passei avistar.
Compreendi o que é amar.
Embaixo das cobertas minha pele fica arrepiada.
Me senti tão desejada, tão amada.
Fico lembrando nosso último encontro.
As palavras, os olhares, os abraços.
Os beijos.
Tantos desejos.
Fico aqui pensando.
Sigo minha vida assim.
Este homem amando.

OS ESQUECIDOS

estavam tão bem vestidos
no retrato
no retrato
ao lado dela um gato
branco
branquinho
estavam sorrindo um sorriso lindo
estavam sorrindo
estavam noutra fotografia a se beijar
milhares de estrelas no olhar
onde tanto amor foi parar?
deixaram as fotos amareladas esquecidas
cuidam de outra forma de suas vidas
na boca o gosto do beijo ficou
mas foi borboleta
voou

INFIÉIS

trocaram as mãos por pés
foram infiéis
as lágrimas derrubadas a redimem?
a culpa ainda a comprime
esmaga seu coração
tudo por causa de uma estranha paixão
e ele o que sente?
ainda dirá que tudo na vida é sensação?
dirá que é preciso sentir emoção?
terá aprendido a lição?

contigo realizo minhas fantasias
me solto
sinto alegrias
tuas mãos são feiticeiras
tão arteiras
deslizam
apertam
procuram
encontram
tua boca me deixa louca
teu corpo quando se cola ao meu
forma um fogaréu
me leva ao céu
sabe, estou aqui a pensar em nós dois
em nossos momentos de amor
a lembrança me traz um calor
minhas fantasias realizas
e eu creio que realizo as tuas também,
meu bem

saudade da tua boca gostosa
da tua pele
do teu olhar
tem dias em que eu penso
que a saudade vai me matar
ela é ferida e é balsamo
nela te reencontro
encontro os dias passados
os beijos que foram dados
nada se perde na eternidade
se foi em outro tempo
ficou na saudade

poeta só é grande quando sofre?
poeta só é grande quando fala da dor?
não, não
poeta é grande quando fala de amor...
quando fala com a mesma naturalidade da tristeza e da alegria
a tristeza ensopava tua alma nos últimos anos
tudo veio mudar os teus planos
me dizias
veja o que a vida fez comigo
é tudo tão passageiro
eu não o enxergava com as pernas amputadas
eu o via inteiro
meu poeta amado, minha saudade
onde ficaram nossas conversas?
nas cadeiras espreguiçadeiras?
nas sombras das paineiras?
tuas palavras foram folhas aos ventos?
não
estão guardadas no meu coração
nos meus pensamentos

mais um dia que chega
uma manhã que nasce
minha alma renasce
bebendo com o olhar o orvalho do gramado
não me dói mais o passado
mais um dia
alegria
é contagiante o canto dos passarinhos
fui uma criança de mexer em ninhos
tudo em busca da energia
em tudo enxerguei poesia
atravessei a vida assim
espiando a vida
esta foi a minha lida
sentir o mundo
ir ao profundo

A mais bela das rosas tu me ofereceste.
Foi numa noite linda.
Deus!
Não esqueci ainda.
O perfume da flor.
O teu gesto.
Era puro amor.
Tantos anos... e aquela imagem não se apaga.
A lembrança me afaga.
A alma ela me acaricia.
Tanta ternura existia.
Tanto carinho...
Nos perdemos no caminho.
E a mais bela das rosas resiste.
Na minha memória ela ainda existe.