Fumaça

Foto de Rosamares da Maia

CARTA A FERNANDO PESSOA

Rio de Janeiro, 26 de maio de 2015.

Meu Caríssimo Fernando,

Nesta manhã como em tantas outras estou solitária e feliz por desfrutar da minha própria companhia. Sim, pois pretensiosamente ou não, estar acompanhada de mim mesma é o que hoje me faz feliz. Principalmente porque estar comigo, mesmo que transitoriamente, me conduz a você.
Nesta manhã, enquanto vejo a fumaça do café galopar o ar, aguço todos os meus sentidos e lembro-me de você, como se estivéssemos compartilhando a mesma mesa, as fatias do mesmo pão. Na realidade já não como, mas, continuo alimentando-me das tuas lembranças.
Fernando,
O que seria da minha vida sem conhecer-te, sem sorver das páginas cada gota dos teus escritos? Que seria de mim se não sentisse as tuas angustias, o teu amor para além dos lusitanos mares? Se não tivesse como tu compreendido os vaticínios de D. Sebastião.
Também tenho muitas personas aprisionadas dentro de mim e, ao contrário de ti, não consigo exteriorizá-los, derramá-los no tapete do quarto e depois abrir a janela, para que voem. Fecho os meus olhos e sou como Maria José – a feia, corcunda e doente. Coitada! Sempre presa à cama, diante da janela, colhendo no orvalho da manhã as pequenas gotas dos sonhos, de seu amor platônico por Antônio.
Escrevo a você cartas, como ela – As cartas que Ele jamais leu. Maria José motivo de riso ou invisível, desabrochando na exteriorização da tua solidão e tão acompanhada de tantos outros Fernandos igualmente solitários.
O que seria de mim sem refletir como Bernardo Soares:
-" Aprender a desligar as ideias de voluptuosidade e de prazer. Aprender a gozar em tudo, não o que ele é, mas as ideias e os sonhos que provoca.
Por que nada é o que é e os sonhos sempre são os sonhos.
Para isso precisa não tocar em nada. Se tocares o teu sonho morrerá, o objeto tocado ocupara tua sensação."
"Ver e ouvir são as únicas cousas nobres que a vida contém. Os outros sentidos são plebeus e carnais."
"A única aristocracia é nunca tocar. Não se aproximar – eis o que é fidalgo"
Bernardo Soares /Fernando Pessoa – 1888-1935 – in Livro do Desassossego.

Eu como Bernardo, sou fragmento do meu primeiro eu, que diariamente vem à tona para cumprir muitos papeis que a vida impõe e cobra, mas, aqui nesta pouca solidão com a qual a manhã me privilegia, consigo fechar os meus olhos e desfrutar da tua companhia, me aproprio de ti e te ouço soprar em meu ouvido esquerdo. Meu coração se contrai e expande dentro do meu peito e uma profunda saudade se apodera dele, me levando ao mergulho em um tempo que não vivi – o tempo de te encontrar.
Vamos a Livraria Lelo & Irmão, sentamo-nos a tua mesa preferida para tomar café, comer bolinhos e pensar no Mar Português – “Ó mar salgado, quanto do teu sal / são lágrimas de Portugal!” / Valeu a pena? Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena.”
Meu pensamento associa-se a fumaça da xícara fumegante, tomadas em dimensões de tempo e espaço tão distintas e, Maria José fecha os olhos para vida com a certeza do seu amor, porque ele foi tudo que fez valer a sua insólita passagem por este mundo; Bernardo olha e se vê em ti, a mesma imagem, mas o seu reflexo no espelho tem um olhar arguto, mais crítico e menos emocional. E é assim, cada um é o que é mesmo sendo somente a derivação de uma só “Pessoa”.
E eu te escrevo esta carta, esperando que nossa conexão de espírito não seja apenas um delírio matinal de quem ainda não acordou direito e, como tu mesmo disseste, - “ Acordaste-me, mas o sentido de ser humano é dormir.”. Mas o que escrevo-te neste momento, é para agradecer-te.
Obrigado Fernando. O que seria de mim se você não tivesse existido?
Obrigado Pessoa pelo café compartilhado aqui, na minha mesa da cozinha.

Rosamares da Maia.

Foto de Arnault L. D.

Em outro lugar

Faça um pouco de quietude
para assentar a areia,
decantar a turbidez d’alma.
Faz calar a dor, e amiúde,
quem sabe a loucura meneia
se houver um pouco de calma...

Fecha os olhos, não mais procure
no turbilhão de luz e fúria,
na ensurdecedora algazarra,
um tal remédio que lhe cure
destas feridas, da algúria,
da cica que a vida amarra.

Meu ar, tão cheio de fumaça;
vento não leva, traz areia...
A vida escorre das metas,
quebra os planos, faz mordaça.
A esperança a pulso ateia;
vem o destino a impor setas.

Sigo, mas numa louca dança;
aos trancos, morro abaixo sigo,
mas a ternura ainda existe,
o sonhar ainda se lança
em asas livres, no abrigo
que guarda a fé que insiste.

Foto de ArielFF

fumaça

Ô fumaça
Qual é tua graça?
Que é que tu tem
Que me transforma em alguém
Tão cheio de coisa
Que eu nem sei?

Foto de Arnault L. D.

Cantares íntimos

Minha poesia é tão íntima
que ela sequer possui a voz,
só fala aos olhos, sem palavras.
Nunca tento recitar a rima,
apenas teço aqueles versos sós
e esqueço ser minhas as lavras.

É como se fugi-se ao peito,
qual pássaro a romper gaiola.
Mas, não recito, não pronuncio
e o seu cantar assim desfeito
qual fumaça, que ao léu evola
silenciosamente ao vazio.

A tortura de sangrar beleza,
essa tristeza que ponho verniz,
não ousa voz, apenas transcrevo.
Lento é sonhar; presto, a aspereza
transparece-lhe nos versos, se diz...
Então, recita-los não me atrevo.

Que na voz mansa d’alma ressoe,
entre íris e encarne as idéias,
façam calar o barulho tanto
que force ao silêncio... E perdoe
se só cantarolar à platéia
sem palavras, só as notas canto.

Foto de ArielFF

Poeminha de domingo

No domingo perdì a graça
Soltei fumaça
Perdì o tempo
Cortei o vento

No domingo me fugiu a vontade
Me chegou a idade
Me sumiu a calma
E morreu minha alma

No domingo eu perdì a hora
E escrevi uma nota
Pra ver se la fora
Avançava o tempo

No domingo me findou a vida
Houve despedida
Sem haver partida

E domingo era todo dia
Em que perdì a vida
E não pude amar

Foto de ArielFF

Desânimo súbito

Não deixo de fazer gosto da vida
Essa nossa dádiva divina
Nem de agradecer a cada dia
Por tudo que já pude ter

Mas te digo, não fique chocado
Por esses dias ando entediado
Com tudo o que vejo fico enjoado
Talvez eu tenha apenas cansado
Ou esqueci como é que sorrì

Juro que não há nada errado
Que hoje o dia estava ensolarado
Que eu estou enamorado
Que por Deus eu fui abençoado
Mas estou decepcionado

Oh céus, para onde foi a graça?
Vai ver se camuflou na fumaça
Ou que felicidade é só trapaça
Ou eu que não acho o que me satisfaça?

Foto de carlosmustang

VIDA FOFA

Vivendo em vómitos
Esperança, clorofórmio
Herança,objecto,dejecto
Um dia a de ser...

Com medo coragem
Sublime bobagem
Amor e ternura
Ambiente loucura

Sonhos são feitos
De perdra fria
Pra ser escrito num dia

Mas os realizaveis
São de fumaça
Sejam de pedra, nuvens, passa....

Foto de carlosmustang

'UM LEÃO POR DIA'

É tanta gente que briga implora
Gente que chuta, implica que chora
Murmura, falseia ignora
É fumaça evasiva, do sonho, estoira

Amor e ódio impera incompreensão
Sentimento da alma, vieis desilusão
Correria acalma, luta sobrevivencia
Medo, sofrimento, carência, vencer

É correr pela vida, frieza, entender
Contando os passos, não relembrar
Se iludindo, pra não chorar

É correr pra vencer, surpreender
Ficar pra querer, poder e lutar
Sem entender que a morte,é pra ganhar

Foto de Carmen Vervloet

Ervas Daninhas

O ciúme é o espinho do amor,
tanto fura que o amor não perdura
e entre tristeza e dor
todos choram suas agruras.

A desconfiança é o veneno do amor,
mata em doses homeopáticas,
estimula o repúdio e o rancor
deixa a alma fria e estática.

A mentira é o inferno do amor...
Queima o encanto de qualquer relação,
transforma em fumaça, o viço, o fulgor,
incinera o arroubo do coração!

São ervas daninhas que tudo sufocam,
asfixiam o que brotou com tanto vigor,
devastam, ferem, implodem, chocam,
envolvem a vida em puro amargor.

O amor é um jardim que precisa ser cultivado
com zelo, carinho e muita atenção,
precisa respirar, não sobrevive abafado,
o amor é flor delicada que brota do coração.

Foto de imaginação

Retalho da infancia

Você pode aliviar essa dor?
Ponha-me outra vez em pé!
Ajude-me preciso saber onde dói!

Não há nenhuma dor, você está recuando
De algo que está distante como fumaça no horizonte
Agora tenho essa sensação mais uma vez
Não adianta explicar, você não entenderia

Não é assim que sou?Confortavelmente entorpecente
Isso fará aguentar o show que é a vida
Eu peguei um reflexo passageiro do tempo de criança
Acanhado…cadê meu desejo, olho..os dois primeiro..pontinha do nariz cantinho… cantinho…quietinho, tem náusea era do babaçu nada me fazia detecta aquilo era nem bom nem ruim

E não foi só comigo.
A criança cresceu
Uma criança nasceu e de espectadora assisto
Seu declínio, mas hoje é sem gosto
A cicatriz do rosto ainda não morreu
E eu fiquei inexorável entorpecida

(PhiamaL.A)

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