Outono

Foto de Carmen Lúcia

Até o pôr do sol...

O sol estava se pondo...
Tarde de outono!
Observo minha mãe
Num denso sono...
Nem percebe as folhas que caem
E amareladas se esvaem,
Tocando seu inexpressivo rosto.

Parece querer de pleno gosto
Ir de encontro ao sol se pondo
Sem resistência, sem confronto...
Espera que a leve a luz tênue da tarde
Sem barulho, sem aviso, sem alarde...
Frágil como a pluma a dançar no ar.

Logo ela, que se lançava aos desafios,
Entrega-se agora...Nem luta, nem chora...
Desiste a cada dia, definha a cada hora...

Espera ver o pôr-do-sol levá-la embora.
Triste saber que ela desiste...
Vacila entre o existe e o inexiste.
Tão triste vê-la
triste...

_Carmen Lúcia_

Foto de Carmen Lúcia

Momento único (para minha mãe)

Um doce enlevo me conduz à recordação,
trazida pelo vago entre a tarde que morre
e a noite que se anuncia...
Pela nostalgia que se espalha no ar
e pelo espaço vazio entre os dois momentos;
final da tarde e início de noite...
Pelo surgir, de qualquer canto, da saudade
que invade e toma forma,
pra se fazer notar...

Então a vejo...
A tez clara em oposição à contraluz do lugar;
brilho ao mesmo tempo fosco e esfuziante...
Cabelos discretamente dourados,
como folhas de outono, apagadas...
Olhos que me acariciam, me adornam...
E me deito em seu colo
tentando retroceder o tempo...
Queria esse tempo agora!

Utópico pensamento que me consola.
Suas mãos macias em meu corpo
me fazem renascer...
Adormeço com o seu cântico
a me embalar ... e de novo me gerar.

Minha mãe...Eterna morada...
Acordo... enquanto o doce enlevo se desfaz;
olho para o espaço vazio
entre a tarde que se vai
e a noite que ainda vem.
É o momento de a reencontrar...

Carmen Lúcia

Foto de Marilene Anacleto

Mãe

Esparge, a lua, sua luz em raios,
No anoitecer de outono, em dança,
Ilumina as ondas em pequenos fachos,
E a mãe ora por sua sempre criança.

No movimento da onda, a lua
Penetra mais fundo na água.
A oração vem banhar o semblante
Enquanto ilumina a minha alma.

Entre suspiros e palpitar de coração,
Crescente, nova, minguante e cheia,
Há sempre um consolo ou um perdão.
Traz-me as bênçãos das manhãs serenas.

E no encontro depois de tempos,
Enquanto a lua faz dia no despido céu
Paira o anjo, de leve em meus ombros:
Beijo de mãe, saudade transformada em festa.

Foto de Marilene Anacleto

Outono

Outono

Muda-se o verão para o outono,
As folhas aventuram-se pelo ar.
Almejam liberdade, grande sonho
De voar, voar e revoar.

Estonteantes de alegria,
Achega-se às gaivotas.
Burburinho e cantoria
Acompanham cambalhotas.

E conhecem outros seres,
Respiram outros perfumes,
Misturam-se a outras espécies.

Dançam, soltas pelo vento,
Coreografias de lumes
Até o chão que as recebe.

Também assim é a vida,
A mudar de estação.
Que sejamos bem felizes
Para não morrer pelo chão.

Foto de ALEXANDRA LOPUMO SILVA

Respirar fundo

Inspire
Expire

Inspire fundo, encha o corpo de ar, de vida
Estar vivo, respirar
Prazer de sentir o pulsar do corpo
Como raios de sol brilhando, o fulgor da vida
Florescente e fresca, primaveril na infância
vivaz como o verão na juventude

Expire bem devagar
não se pode represar o ar
Vida que se esvazia pelo tempo
como um grito forte saindo do fundo do peito
ressoa até faltar o ar

O tempo muda, a vida muda
é preciso respirar muito fundo, presente, consciente

Amadurecer no outono
Envelhecer no inverno
Viver

Foto de Carmen Lúcia

Estações do tempo...e da vida (inspirada no texto de pe Fábio de Melo:Outonos e Primaveras...)

Final de inverno...
Lacradas estão as folhas
que esverdearam sonhos,
derrubadas pelo vento,
sepultadas pelo rigor do frio
no silêncio das sombras
na escuridão do chão...

Embaladas pelo outono
que tristonho se foi
e ansioso espera
ver renascer a primavera
que adormecida sob o solo
nos priva da visão
de sua germinação...

Fase que não vemos
mas que nela cremos..

É o ciclo de vida e morte...
Vida que não se finda,
morte que não se acaba...

Processo que se encaminha sem pressa,
movimento que vai se cumprindo em partes,
o cair das folhas, fecundidade,
cumplicidade do tempo,
canto das cigarras, assovio dos ventos,
o ressurgir da aquarela , o florido sobre a terra,
o renascer da primavera...

Cumprida a missão, o outono agora espera
o retorno de outra primavera...
a sua ressurreição.
Assim como a vida...
a próxima estação.

_Carmen Lúcia_

Foto de Arnault L. D.

Tempestade

Uma garoa mansa acontece,
trovoadas distantes ecoam,
numa tarde morna, de outono.
O Sol, escuro, como anoitece,
sobre o peso das nuvens que troam.
Hora selvagens, hora com sono.

Pelo breu sei que é tempestade.
Pelo silencio dos passarinhos,
que lhe fazem papel de arauto.
e num voo tropel de ansiedade
fogem, alertando no caminho,
para o súbito não vir de assalto.

Lampadas da rua ascendendo
na ignorância que não é noite.
O clarão mudo dos relâmpagos
dublados em atraso, vou vendo
no suspense do primeiro açoite
desta tempestade a qual divago.

Foto de Carmen Lúcia

Outono e saudade

O outono já me fez feliz,
quando no tapete de folhas douradas
eu corria atrás do tempo
que quase se deixava pegar
pra me fazer acreditar
que apenas queria brincar...
quebrando a seriedade que lhe cabia,
senhor da razão, feitor de marcas e feridas,
e mostrar quão dourada era a vida...

O meu rosto confiante resplandecia
e todo meu corpo estremecia
hipnotizado pelo reflexo do ouro
trazido pelos raios de sol
em fusão com a cor da estação,
dando a impressão de que cada arrebol
era prenúncio de chegadas...
sem despedidas.

Hoje o outono é saudade...
O tapete de folhas secas
me mostra a verdade.
E a cor destoada
me faz encarar os dias
agora também com partidas.

O vazio de árvores peladas,
lágrimas vertidas e amareladas,
vendo o vento roubar-lhes as folhas
que tristonhas se enroscam no tempo
e com ele se vão
pra nunca mais voltar.

Folhas que morrem para que outras
possam ressuscitar...
E assim é a vida.

Carmen Lúcia

Foto de Carmen Vervloet

(Re)canto do Tempo

Um teto de estrelas prateadas,
olhos passeando na noite enluarada,
as almas calmas e silentes
em êxtase sob as árvores confidentes.

Quanta paz neste intocado lugar!
Os sonhos se alternando em sossego
buscando o calor, o aconchego
deste céu que é o nosso lar.

Os gerânios balançando na janela,
a romã que o sol envernizou,
um jantar romântico à luz de velas,
nos lábios o gosto que um beijo deixou.

Foi neste recanto que o tempo parou...
Entre rosas, orquídeas e hortênsias,
foi aqui que nosso sonho se materializou
e a poesia brotou com eloqüência.

Mas, quem ainda acredita em poetas,
num fogo que palpita nas horas quietas,
num leito de rendas e cetins,
num beijo com gosto de alecrim?

E no outono que a nós ainda seduz
o amor maduro que mais e mais reluz
na estação do tempo cadenciado e lento
nos corações aquecidos neste (Re)canto do Tempo.

Foto de William Contraponto

A VOLTA DAS CORES

Sempre que olhava o passado
Só conseguia ver você
Nada esclarece o que aconteceu
Se houve alguém errado
Esse deve ter sido eu

Mas me diga tudo
Não esconda a solução
Quando ela existe
Nosso mundo pode transformar
E realizar nova ligação

Todos os meus caminhos
Ainda passam pelos seus
E esquecer o melhor desse destino
Despreza o sentido
Que a vida nos deu

Então, volta
Trás contigo as cores
Que alegram em qualquer estação
Ate o outono, sei
Outra vez um colorido verão

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