Blog de Carmen Lúcia

Foto de Carmen Lúcia

Margarida e margaridas

Uma figura sinistra, simbólica,
Que ainda trago na memória
Que fez parte de minha história...

Metódico e irreverente, despojado e carente
Um sábio, um indolente, um infeliz, um demente...
Lembrava Cristo, fisicamente,
Vestes rasgadas, cabelos longos, barba mal aparada
Ou quem sabe, um anti-Cristo,
Oscilando entre o normal e o descomunal
Às margens do convívio social.

Andava pelas ruas e calçadas,
Fazendo gestos, sempre balbuciando
Palavras distorcidas, sem nexo,
Aproximando-se das pessoas
Que corriam assustadas.

Sempre um buquê de margaridas
Alvas, brancas, cultivadas,
A todos ele ofertava (e se orgulhava)
Pois, por ele eram plantadas
Em terras baldias, abandonadas...
Flores por todos ignoradas.

Havia momentos de agitações...
Delírios, alucinações, comoções...
Então ele era rei, poeta e compositor,
Erguia o cabo da vassoura e era imperador!
-Camisa de força para o louco, o agitador!
Ao som da sirene era levado a um abatedor ...

E num desses manicômios,
Tratamento de choque, reativar neurônios,
Encontrou sua Margarida, sua amada, sua vida
E como lúcidos, amaram-se loucamente...
Amor que surpreendeu a muita gente
Pela doçura, pela brandura de dois doentes.

Porém um dia, não mais a encontrou,
Levaram-na dali, outro rumo tomou,
E transtornado pela dor, o louco chorou.
Não mais quis ser rei, nem imperador.
Somente poeta pra cantar a sua dor...

Até que um dia pra sempre se calou.
E numa cova fria, em pó se transformou,
Ou foi ao encontro de seu amor...
Ao passar o tempo, viram lá nascer
Fazendo a cova triste resplandecer
Risonhas e brancas margaridas,
Vida, paixão e morte restabelecidas.

Foto de Carmen Lúcia

Cara e Coroa

Sou a mais viva cor do arrebol,
Também a nuvem negra que encobre o sol.
Sou um gesto nobre de carinho,
Também o frio incesto de seu ninho.
Sou a calma de um mar tranqüilo,
Também sou um furacão bravio.
Sou outono e vento que vêm desfolhar,
Também a primavera e o frescor a aflorar.
Sou a branca paz que pacifica,
Também o arsenal que mortifica.
Sou a moça pura,acervo de poesias,
Também a prostituta das noites vadias.
Sou a bênção que a alma refaz,
Também a maldição de ancestrais.
Sou a seca do sertão agreste,
Também a chuva fina que umedece.
Sou luz,sou chama,sou clarão...
Também sou trevas,sombras e escuridão.
Sou tudo isso que me mostra,
Cara e coroa...
Quem aposta?

Foto de Carmen Lúcia

Evocação à Lua

Quero te sentir bem perto, coração irrequieto,
Pisar de leve tua aura branca, clara, mansa,
E derramar recônditos sentimentos
Em teu manto de luz que a dor abranda.

Levam-me a ti, meus pensamentos,
Teleguiados por anseios e tormentos,
Que de tão sedentos já chegaram aí
Em busca da mais pura inspiração,
Latente, na alma ardente dos amantes
E que aflora, submissa à tua atração,
Quando à noite tu despontas tão vibrante.

Não... Não ouças as serenatas doidivanas,
As juras mentirosas, dolorosas, levianas,
Nem uivos de lobos, falsos, traiçoeiros,
Agourando desventuras aos amores verdadeiros.

Ouve-me hoje... tão somente a mim,
Pois, desafiando a noite, abraçar-te vim,
Estou só e minh’alma clama tua afável chama,
Ajuda-me a delinear palavras, que apagadas,
Tento reacender com tua magia, imbuídas de poesia,
Veste-me com as rimas mais ousadas, mais lunáticas,
Pra compor meus versos de amor sem fim...

Batiza-me em tuas fases, com o teu luar,
Pra que eu consiga transcender e ser lunar,
Capta minha essência, me vejas nua,
Intensifica meus sonhos, clarifica meu poetar,
Envolve-me em teu fascínio...Possui-me, lua pura,
Torna-me, enfim, poeta... para que eu possa gritar
Com as inaudíveis vozes da alma, o que é amar!

E ainda que as nuvens te encubram, já dormente,
Ver-te-ei reluzir como um céu torvo que se estrelasse
de repente!

Foto de Carmen Lúcia

Quero...

Quero o revoar de pássaros
O carinho imbuído num abraço
Quero a minha alma leve
Deslizando sobre a neve
Quero o matiz das cores
A essência de todos os amores
Quero a vida me acenando
Toda a paz me embalando
Quero alma de bailarina
E dos versos, ricas rimas
Quero o esplendor do alvorecer
E ver o céu escurecer
Quero o beijo da chegada
O calor da pessoa amada
Quero as mais lindas canções
Viver fortes emoções
Quero o murmurar das fontes
Revelar onde o sol se esconde
Quero acender estrelas
E não me cansar de vê-las
Quero todas as belezas
Quero tudo, quero o mundo
Pra te ofertar, te deslumbrar,
Te enfeitiçar...e me entregar!

Foto de Carmen Lúcia

Visconde de Mauá

Um recanto de encantos,
De magia, misticismo,
Desenhado nas entranhas
Da Serra da Mantiqueira,
Pelo Artesão da Vida;
Eis, Visconde de Mauá...
Quem não crer, vá até lá!

Cachoeira Véu da Noiva,
Festival dos festivais!
A grinalda pura e branca
Se desliza pela serra,
Espumando sobre a terra
De Visconde de Mauá...
Quem não viu, vá até lá!

No morro Pedra Selada,
Lugar de mata fechada,
Onde as trilhas são mistérios,
Os caminhos têm fascínios,
De duendes e regatos,
De cipós, jacus, macacos.

Rio Preto corre manso,
Contribui com o descanso,
Mas, se cheio, as corredeiras
Dão vazão para a coragem,
Estimulam à canoagem.

Um rincão onde o poeta
Busca sua inspiração...
E foi lá, se não me engano,
Com lirismo e eficácia,
Que da alma de Caetano
Nasceu "...Choque entre o azul
e o cacho de acácias..."

Nas flores, em exuberância,
Há um toque de arrogância,
Exalando pelos ares
Suas essências e fragrâncias...
Como ornatos, pelos matos,
Brincam as cores das begônias,
Revelando esconderijos,
As marias-sem- vergonha.

Quando o sol pinta cedinho,
Degelando a geada,
Passarada deixa o ninho,
Principia um escarcéu...
Maritaca, gralha-azul,
Fazem baile lá no céu.

Chega a noite, branca e nua
Vem a lua se mostrando
E na fusão dos pisca-piscas
De estrelas e pirilampos,
Só se vê pra todo canto
Mil pontinhos cintilando.

Num lugar onde a beleza
Vai de encontro à natureza,
Tecnologia se esconde,
O progresso...nem de longe!
Só ar puro em demasia,
Tanta diversidade em harmonia
Onde mora a poesia,
Eis, Visconde de Mauá,
Quem não foi...vá até lá!

Foto de Carmen Lúcia

Papel em branco

Vem, inspiração...
Onde te escondes?
Não vês minha aflição?
Minh’alma lateja,
Meu sonho te almeja,
Acolhe-me em tua mansidão!
Navega em meus devaneios,
Voa com meus anseios
Vem depressa...(di)vagar...
Vamos juntas caminhar.
Ouve os meus apelos
Que clamam teu inspirar!
Transforma-te num manto
A me envolver, sensibilizar...
Sinto-me um papel em branco
Não sei mais poetizar...
Pobres são meus versos
Molhados pelo meu pranto,
Esvaindo-se no ar...
Sem rimas, sem vida, a vagar...
Vem, inspiração...
Não me deixes esmorecer
Sem poesia já não posso viver
E sem ti, melhor morrer.

Foto de Carmen Lúcia

Livre

Livre...Agora sou!
Posso correr e alcançar o tempo
Dizer-lhe que me libertei do medo
De todo o tempo em que me aprisionei
Na escravidão do tempo, sem deixar-me "ser".

Livre...agora estou!
Aquele medo do tempo acabou
Que ele passasse e me arrastasse
Sem dar-me tempo de mostrar quem sou...

Livre...Agora vou!
E desvendar todos meus sentimentos
Soprá-los livres de encontro ao vento
Para que possam avisar ao tempo
Que não me espere, pois não quero ir...

Se por acaso ele me esperar
Não terei pressa, pode se cansar...
Porque sou livre, ainda quero amar,
Viver a vida e me encontrar.

Foto de Carmen Lúcia

O trem

Não quero saber das partidas,
Das idas sem vindas
Que vão e não vêm...
Causando transtornos e danos,
Levando os sonhos nas rodas de um trem.

Eu quero é ouvir seu apito,
Acenar com agito em cada estação...
Sorrir ao sentir a chegada
Daqueles que foram buscando emoção!

Quem dera poder ir embora,
Partindo com ele nos trilhos do além...
E ver nas janelas, lá fora,
O tempo ficando distante de mim...

Já ouço o trem apitando
Na linha da vida, sem rumo, enfim...
Será que está indo ou chegando,
Trazendo ou levando, o começo ou o fim?

Foto de Carmen Lúcia

Reminiscências do Natal

Infância...tempo feliz...cerro os olhos...reminiscências!
Menina franzina, franjinha, crédula...inocência!
Dezembro...Piuí!Piuí!Viagem de trem...Alegria!
Família embarcando pra casa da tia Maria!

Malas, maletas, pacotes, embrulhos...felicidade...Saudade!
Sorrisos, risadas, gritinhos, barulhos, gargalhadas...Chegada!
Abraços e beijos, rodopios, correrias, vozerios...Algazarra!
Um ano se passara...custou mas chegara...o sonho se realizara.

A casa, um primor...em todo canto, o calor
De quem espera com amor, a vinda bem- vinda
Da família e de Nosso Senhor, a quem atribuía-se louvor,
Missa do Galo, sinos badalando, todos festejando, o amor se espalhando.

Depois da ceia, os cumprimentos...e a menina ia pro seu canto
Com seu olhar de espanto, queria o presente...e ficaria mais contente
Se o mesmo viesse embrulhado num papel,
Sem ter que se deparar com Papai Noel.

Uma boneca de pano...Um bercinho, colchãozinho, acortinado...
Não lhe saem da lembrança, talvez, os que mais tenha gostado,
Com os que mais tenha brincado...que permanecem em seus guardados.
Porque o resto já se foi...Viagem de trem, algazarra,
Aquela doce euforia, casa da tia Maria...e ela também.
Da menina, a inocência, os sonhos, a fantasia, que a fizeram, um dia
Ser feliz, muito feliz...restando as reminiscências, sem nenhuma reticência,
Da alegria que sentia nos natais na casa da tia Maria.

Foto de Carmen Lúcia

Paradoxos

Tu és...

A realidade da fantasia
O final do infinito
A lucidez do insano
O usual do inusitado
A paz dos conflitos
A conclusão da incerteza
A dignidade do sórdido
A sensatez do insensato
A luz da escuridão
A solução dos problemas
A sensibilidade do insensível
O grito do inaudível
A eficácia do inativo
A força dos fracos
A valentia dos covardes
O exorável da arrogância
O agora da posteridade
O bem do mal
A cronometria da imprecisão
A libertação do alienado
O comedimento da exorbitância
A pureza da malícia
A visão do cego
A exatidão do inexato
A imaginação do inimaginável
A fé da descrença
A essência do desnecessário
O concreto da abstração
O absurdo da razão
A verdade da hipocrisia

Porque és ...

Irreal
Inatingível
Indecifrável
Inalcançável
Inabalável
Inacessível
Inacreditável
Inatural
Incógnito
Incomparável
Incontestável
Indefinido
Indescritível
Inexplicável
Inominável
Insuperável
Intangível
Intemporal
Intersideral
Invulnerável
Inexistente

Portanto...

Não és...
Nunca foste...
Jamais serás...

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