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Menina perfeita à chuva IV

Feliz de dia quem lamenta o que não fez à noite. Infeliz ao deitar ela. A menos esforçada alma transparente. Que sempre penteou os cabelos louros pensando que eles eram azuis. Que sempre pintou os lábios transparentes, esperando que eles fossem pretos. Negros de morte. Daquele desaparecimento espiritual que leva a pintura de vida de quem faz realmente falta entre os quatro cantos de um planeta esférico.
Teimava em acidificar, a chuva. Não seria um aguaceiro, porque o céu lembrava mar depois de naufrágio poluidor. Mas também não era o dilúvio, porque o fim do mundo sente-se.
Entranha os ossos sem ser chamado, e faz das lamentações sangue amarelado. Pasta que lambuza a cara dos sofredores, e deixa os felizes, contentes até ao fim do segundo que vem a seguir.Menina frustrada, à chuva. Lembrou quando aprendeu a ler. Foi uma festa. Uma tempestade de sabores que a vida brinda em bolo de aniversário.
(continua)

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Sincero

Amar-te,
é o corpo que me deixa ser o assuão frio que te renega o vício de respirar,
para que o sempre seja só mais um segundo a sentir
o bem querer do calor exasperante do teu sorriso,...
vem para aqui,
onde tudo é mais fácil que um sorriso dado em troca de
dois suspiros sinceros,
somos um,
mais fácil que todas as únicas certezas do universo
escondidas na face oculta da lua que nos alumia,
e tudo se resume a querer-te mais que o desejo
me quis algum dia dar a mim....

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Menina perfeita à chuva III

Clamor de chuva. Porque o líquido desfaz sentimentos. As estrelas choram, porque não comeram. As estrelas moram por cima da cabeça das pessoas que são pessoas. Não dos seres que rastejam em banho-maria de lama. Menina tomba de cadeira de pau podre, imóvel. Sempre com olhos vazios. Clara de pele.
Escura de alma, porque a alma faz entristecer o coração. E quem não tem coração, não pode ter uma alma viva.
É isso, falta de coração. A aparente morta de vida, estava viva de pensamentos laqueadores. Coçou a cara, e flagelou a nítida vontade de voar. Queria, mas não podia, sentir fronhas de andorinhas em debandada a roçar-lhe na cara. Pensava pouco. Reagia o que podia. E a reacção, bate sempre mais fundo que a acção.
(continua)

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Menina perfeita à chuva II

Bastava só que acreditasse em mundos paralelos. Rapaz de pó, vezes entrega total, igual a amor. Paixão de povo lutador. Mulher que entrega. Homem que aproveita. Mulher que dá. Homem que explora.
Simples amor de dois corações em equação fatal. Menina que sorria, e o sol voltava. Desapertava o edredon de chumbo que o céu cinzento usava para se tapar e, a custo, vinha acariciar-lhe um rosto incapaz de suster cascatas de lágrimas. O pior são as dores de hesitação. Menina perfeita que tratava por tu o dedo indicador de Deus. Acatava ordens hermenêuticas. Acreditava que a vida tem de ser pior, para um dia, um longínquo dia, consiga finalmente ser melhor. E o vento percebeu. Entrou-lhe pelo coração dentro, rasgou a frágil barreira de seda que ela própria tinha tecido como segurança, e traiu-a. O azar bafejou. Soprou. Enrolou a língua, e arremessou a tristeza. O rapaz de pó desfez-se, no meio de dois trinados de pardal moribundo. Ela não chorou. Apenas emudeceu. O dia acabou, deitou-se na cama de lamentos que o acolhe há séculos, e a noite saiu para caçar. Menina sentada em cadeira de pau podre, com vestido de cambraia imóvel.
(continua)

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Saber de medos

sem saber,
fá-lo para nem sequer
saber que não saber,
é o contrário de ignorar que
a sapiência nos desliza quando
choramos sangue nos entardeceres,....

mas quem quiser desdizer o que
o saber diz à boca cheia aos
tristes da alegria,
que se concentre nos pequenos
pontos do sorriso real em dias
de aérea desdita dos segundos
que transpiram....

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Enfabulador

Já o tinha dito:
foi a tarde mais horrível
do tempo escasso que
dispôs antes de apagar
a noite em luz,
comprometeu-se a que aquele
desvanecer de dia fosse o
mais memorável das vidas
ensonadas de um bairro inteiro,
escreveu-o no vento pouco que
varria as esquinas das purgas
insonoras da saudade,
seria o que os ditongos
humanos quisessem,
dar-lhes-ia a exclamação
em mãos acostadas em cruz,
deslizado do país das lendas,
ficou o que quem luta foi
capaz de dizer a quem chora....

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Menina perfeita à chuva I

Fez de si um borrão em carta de despedida de vida. Falhanço criativo, em noite de chuva. Tempestade aiurvética, acompanhada com a cavaleria rusticana de dois trovões que caem no mesmo sítio de um quintal de nespereiras de acervo. Tratava-se de uma indefinição subjectiva, que a acompanhava....
Refazendo a ideia,...
que se colava à pele de quinquilharia que sempre quis arrancar.
Foi a menina., sim, experiência genética ‘não alfa’, que chorava aos cantos da escola de cantos redondos. Nunca sabia o que tinha, sempre soube o que queria.
Mas diluía-se em expectativas indefinidas de felicidade gótica. Quis casar com um dragão de masmorra de castelo, e ser feliz à sombra de uma nespereira de acervo. Desistiu, quando o mundo um dia lhe disse que as meninas são pingos dos anéis de Saturno, que esperam o fim a qualquer momento.
Tudo estaria alegadamente dependente de Deus um dia se aperceber que tinha errado ao criar uma raça humana que se levanta, quando o dia nasce, simplesmente para se deitar quando as estrelas se alimentam, com a sensação de desprezível alegria astrológica.
Teve flashes de felicidade meteorológica. Adorava sentar-se em cadeira de pau podre, e sentir a frescura das chuvas de Outono. Caracóis de um louro desmaiado humedeciam ao passar dos segundos, e tornavam-na parte de um ecossistema de renovação. Terra, água, e ar, embalavam a pessoa de indefinições em desejos de aspiração divina.
Para depois gozarem com o sorriso de neve que sempre a matou por dentro. Sofria com o vestido de cambraia que a avó de afectos lhe bordara. Serviu o cós da saia muitas vezes para assoar fluidos de vergonha.
O rapaz de pó acariciava-lhe o rosto, e prometia-lhe redenção. Ela não existia. Mas ela poderia vir a ser caso sério de amor incondicional. Sem réstias de arrependimentos. (continua)

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Claro desconforto nos dias presentes

fizeste desta vida,
com a sobriedade de
muitas mortes,
o desconforto de
um acordar semi-traçado
a cores desnudadas
e lavadas com o sangue
das esporas do
cavalgar da rotina que mata....

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Interior IV (e último)

João parece estar disposto a voltar à repartição depois do próximo nascer-do-sol, mas o careca não o deixa sair. A saída do pequeno cubículo está estrategicamente tapada por um homem que não suporta a ira dos desvarios da vida. O vulto cónico que esconde num dos bolsos do casaco ganha nova dimensão, e parece já não haver dúvidas. O alvo é João.Ao primeiro passo, o plano de agressão é declarado. O segundo, deixa de parte qualquer hipótese de tréguas.

O terceiro passo injecta desespero na pacata personalidade de João. O menino em idade de pré-primária assiste ao confronto, e alerta a mãe para um cenário de eminente desfile bélico. Pelos olhos de um ser humano de cinco anos, a caminho dos seis, estão prestes a digladiar-se dois guerreiros do espaço, armados com sabres de luz e escudos de neutrões.A senhora idosa já desmaiou. O calor sufocante de um dia húmido de Janeiro fez efeito na pressão alta de uma mulher que já foi saudável.
É preciso levá-la com urgência ao centro de saúde mais próximo, porque o coma pode estar eminente.- O jovem é bom que saia da minha frente, porque eu não gosto de servir aço às pessoas.A breve, e agressiva declaração foi a única produzida na repartição pública durante os últimos 30 minutos. João desviou-se, e o careca saiu para a rua. A caminhar, sem olhar para trás, parecia não incomodar-se com o peso da bátega de água que se abatia sobre os ombros.O autor enganou-se. Não houve nenhum homicídio.
Morreu uma barata, produziu-se um coma, acentuou-se uma depressão, e ter-se-á originado mais uma. Quem lida com a ficção, não tem dotes de médium-vidente. A realidade muda consoante as curvas dos polegares que agridem o teclado.
Fim

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Interior III

Parece já ser tarde. O olhar que insiste em traçar a bissectriz a uma calvície nascida pelo rigor da meia-idade, despoletou uma reacção impossível de ser travada. A única funcionária responsável pelo atendimento na repartição da segurança social encerra o serviço cinco minutos antes da hora prevista.A jovem que tilinta um piercing no nariz está a ter uma crise de choro, gritando a plenos pulmões que irá ser censurada pela mãe se não entregar a declaração de imposto, e quiçá impedida de ir à festa da espuma prevista para o fim de semana que bate à porta.O paciente do único psiquiatra da freguesia tenta encontrar uma explicação para o momentâneo desenrolar de eventos, mas ao que parece não está a conseguir.

A ruborescência tomou conta de uma face assustada, e que luta por escapar de uma realidade asfixiante.Uma idosa, vagarosamente amparada por um par de muletas ferrujentas, pede ajuda para se sentar porque está a ser assoberbada por uma crise de artrite reumatóide. Cai antes de o conseguir, parece ter fracturado a anca, e é necessária a presença urgente de técnicos de emergência médica.

Uma mãe jovem tenta, sem sucesso, fazer parar uma avalanche de lamentos de um menino em idade de pré-primária, que insiste querer lanchar um pastel de nata com um sumo de laranja.João está encostado à parede. Percebeu que está num daqueles momentos cinematográficos. Cresceu consolado por uma realidade alternativa, que ainda hoje define os momentos épicos da sua vida. De repente, e vindo do nada, apareceu ali naquele cubículo o Tuco Ramirez, de ‘O Bom, o Mau, e o Vilão’.
João está com as mãos amarradas atrás das costas, empoleirado num crucifixo de madeira carunchosa, e com o nó de força enrolado no pescoço. O careca será um Clint ‘Blondie’ Eastwood de circunstância, moldado por uma raiva que João parece não entender. O careca mexe no bolso do casaco nervosamente, e deixa transparecer um vulto com uma forma cónica.Já chove, e entram os técnicos de emergência médica.
A barata que, lutava amargamente por escapar aos passos do bulício, conseguiu chegar sã e salva a uma cadeira, contígua ao assento onde o careca desfia a sua raiva. Lentamente rasteja um caminho que parece a via sacra, e está já a poucos centímetros da mão direita do careca. Um gesto brusco fá-la tombar, e cair no frio dos mosaicos azuis. É esmagada, inadvertidamente, pelo pé esquerdo de um dos técnicos de emergência médica que socorrem a senhora das muletas. A fractura confirma-se, assim como o desfiar de rosários de uma alma que afirma esperar a visita de uma ‘senhora de negro’, com quem afirma já ter tomado chá por diversas vezes. (continua)

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