Janelas

Foto de Soninha Porto

CASA AMARELA

Casa amarela
do alto
deita sombra
sobre o rio

visitei suas janelas
o rio bate suave
como mar
as ondas do vento
beijam o ar

troncos
pedras
em brumas
encanto do ser poeta
de vagar

soninha porto

Foto de Soninha Porto

MEUS OLHOS

As janelas dos meus sonhos
estão ao norte dos meus olhos,
brilham na escuridão descabida.

Embriago-me de letras,
saboreio como taças de vinho,
sou aprendiz na vida,
traços chegam aos pouquinhos.

Descrevo o amor...
alimento lembranças e sentidos,
monto nos cavalos alados,
vôo do sul até encontrar o teu abrigo.

Foto de JGMOREIRA

A CASA

A CASA

De sobre o promontório
a casa é minúscula
liliputiana
À medida em que me aproximo
percebo a amplidão do sítio
a fortaleza das colunas
a firmeza da amarração
o esmero no acabamento
o conforto da varanda.

Circundo a construção, admirado.
A mão, nada subalterna
torce a maçaneta azinhavrada.
A luz do dia fulgura nos cômodos
vazios, enche as paredes nuas.
dentro da obra inacabada, assusta-me
a pequenez do arquiteto
que abusou do excesso em ciência
para estilizar o que é rude
como soe a toda harmonia.

Algumas portas não se abrem
atiçando o rubor da curiosidade
até que se a molde em conformismo
muito embora se possa tentar adivinhações
baseado no conjunto já visto
da obra por terminar.

Tento definir o que vejo
mas todas as palavras são vazias.
Inúteis as canetas.
Como se fora me sufocar
ao ouvir a flauta de Pan,
desando a descerrar janelas possíveis
escancarar as portas que m’as permitem.
Desabalo pelo corredor
até alcançar o alpendre
onde desmonto, calado e imóvel.

Aboleto-me ao sol retirante
aninhando-me no aconchego
de um coração desencantado.

Na modorra, no vazio inútil
de gestos e palavras
apenas contemplo, sem músculos
o que construí de mim
enquanto desvendo outras casas
que vão surgindo ao longo
com outros eus a desmontar nas sacadas.

Foto de JGMOREIRA

DISPARADA

DISPARADA

Passam por mim em disparada.
Oiço-lhes o tropel. Voz muda.
As mãos não chegam às rédeas
A vontade não serve para nada.

A velocidade das cavalgaduras
Atordoa meus olhos. Fere.
Ficam no ar os riscos da sua passagem,
Manchas que atravessam as ruas.

Onde quer que vá é o atropelo.
São belos, vários pelos becos
Sob o sol, lua, amor e medo.
Não obedecem nada. Desespero.

Deliro em minhas janelas
Vendo-os riscar os dias.
Assustam-me nas noites
Quando passam. Mazelas.

Não encontro um sequer rocinante.
São sempre altivos, bravios, indômitos
Nada os detém, voam sem pousa
Estrebaria. Não lhes sei rumo nem nomes.

Um dia pensei tratar-se de tropilha
Que tivessem direção definida
Seguindo algum tropeiro ou dono
Mas é apenas cavalaria.

Observo a marcha forçada da bestiagem
Sem atinar com o sentido das idas e vindas
Como circulassem à minha volta em mostra
Do seu poder, fúria ou da pelagem.

Atônito, tendo dar sentido à manada
Dos anos que passam em disparada
Como se fossem cavalos sem brida
Todos os dias da minha vida.

Foto de JGMOREIRA

DAS VÁRIAS ESPÉCIES DE MALES QUE ATORMENTAM A ALMA

DAS VÁRIAS ESPÉCIES DE MALES QUE ATORMENTAM A ALMA

Se não fosse essa doença invisível
Que me torna essa coisa previsível
Decerto a vida seria diferente
Comigo inventando gente
de nova estirpe e contente.

Todos os cômodos da casa
Tornaram-se enfermaria
Onde guardo meus curativos
Para proteger a doença que procria.

Criei em mim esse mal, esse inimigo
Que abriga-se em mim, que se refugia
Dentro da minha alma e covardia

Estou doente. Terminado está cada dia.
Só tenho momentos de oxigênio
Não existe mais presente
O que respiro alimenta o mal que carrego
Que minha vida é quarto escuro
Sem janelas ou odores decentes.

Somos nós, eu e o mal, afrontados
Como amigos nunca afastados
Siameses, híbridos, assensos seres
Ao nascer do dia de guarda montada
Sabendo eu que ele se alimenta
Da minha vilania, alegria, palavra.

Nesse quarto escuro, sem portas
Sem trancas, sem futuro ou dignidade
Cultivo o que me mata
Sem poder fugir,
Dada a sua exigüidade.
Ficamos assim, a nos contemplar
Dia-a-dia, todo o tempo
Sem nada a dizer ou pensar
Para não lhe dar alimento para germinar
Que sua metástase ganha força no sofrimento
Que com o passar do tempo
Termino oferecendo
Quando passo a me expressar.

Entrei nesse retiro forçado da humanidade
Para que todas as dores fossem só a minha
Para não dividir, compartilhar, ofertar
O olhar triste de quem esqueceu amar

Cria-me homem imenso, imortal
Ulisses a suportar todas as dores
Mas desconhecia essa capacidade
Humana de vergar a qualquer custo
O mais forte sem nenhum esforço.

Criei esse mal em minha alma
Essa tristeza que procria no fundo
Que vara com calma e paciência
Meu coração com sua indecência.

Os doentes do corpo, nas enfermarias
Lamentam a sorte, afrontam Deus.
Cá, nessa minha construída agonia
Ignoro a morte, ergo as mãos ao céu

Dono dessa tristeza que me assaltou
Não sei bem quando nem aonde
Vou descobrindo que todas as doenças
São inventos puros da falta de amor.

Foto de Sonia Delsin

DISFARCE

DISFARCE

Persianas brancas.
Elas se fecham como pestanas pesadas.
Ah, eu dou risadas.
Destas janelas azuis.
Destas tardes caladas.
Eu rio para não chorar.
É um riso para disfarçar.
Está molhado meu olhar.
No rio da minha vida tanta gente eu vi passar.
Uns passaram sem marcas deixar.
Outros conseguiram no meu ser enraizar.

Foto de nelllemos

Estou só
Com os meus medos
Os meus receios
Os meus estorvos
Estou só
Buscando algum sol
Que queira brilhar
Clarear meus caminhos
Adiantar-me
Estou só
Com as minhas culpas
Com minhas pulgas detrás da orelha
Estou so
Mesmo rodeado
Abarrotado de gente ao meu redor
Estou so
Sem um sofá para recostar minha cabeça
E descansar
Estou só
Sem. o teu ombro
Só os me.us escombros sobraram preu me refugiar
Estou só
E não vejo casa
A minha casa já não me guarda
O meu anjo tirou férias prolongadas
Nem ele tenho mais pra conversar
Estou só
Sem janelas
Portas trancadas
Minha vida armada
Como um circo dos horrores
Estou so
E só sinto a dor

Nell Lemos

Foto de Carmen Lúcia

O catador de pensamentos

Mal amanhecia o dia
Lá ia seu Rabuja,
Com ar de ranzinza,
trajado de cinza
com um saco na mão.
Passava sob as janelas
de todas as ruelas,
caçando ilusões.
Suprimir sofrimentos,
catar pensamentos
caídos no chão.
Havia de todos os tipos;
alegres,pesados,sofridos,
sombrios,leves,vazios,
em grande profusão.
Catava-os com muito carinho,
colocando-os um a um
dentro do saco,no chão.
E antes de cair a noite
voltava para casa,
com enorme satisfação.
Embora cansado,queria
fazer de seu sonho,realização.
E nas prateleiras da sala,
distribuía com gala,
pensamentos mil...
Dispostos em ordem alfabética,
Sem nada de rima ou métrica,
com gesto febril.
Na A,pensamentos de Amor,
Na B,de beleza interior,
Na C,compaixão,comunhão,
Na D,desapego,doação...
Os pensamentos doentes
eram todos separados,
pois,por ele eram tratados,
com zelo,cuidado e aparato.
E quando chegava a hora
era o momento de glória...
Num raro jardim secreto,
plantava todos pensamentos
já livres de sofrimentos.
Com um sorriso discreto
tratava-os com grande afeto.
Então vinha a Primavera
com seu poder de transformação;
cada pensamento virava
linda rosa em botão...
E de seu Rabuja,o jardim,
Era beleza sem fim...
Canto de passarinhos
que saíam de seus ninhos
Pra voar por entre as flores,
rosas de todas as cores.
E quando de lá partiam,
em seus biquinhos cabiam
as mudas que então espalhavam
em cada canto da cidade.
As rosas se multiplicavam,
os pensamentos se uniam
num misto de amor e felicidade...

Foto de Carmen Lúcia

Chama Apagada

Abri a porta para que adentrasses
Literalmente dentro de meu ser,
Porta que um dia havia lacrado
Por ter jurado nunca mais sofrer.

Permaneceste tendo privilégios...
Tuas vontades...as prioridades,
Fechei janelas, ignorei o mundo
Doei a ti o amor mais profundo.

Fizeste estragos, foste uma quimera
Estraçalhaste o bem que te quisera
Que te entregara sem nenhuma escusa
Um coração que agora já não pulsa.

Mas se voltares...pises de mansinho,
Respeita a dor que jaz adormecida...
Entra em silêncio, já não há mais nada
Somente as cinzas da chama apagada.

Foto de Bia Marquez

Retalhos

juntei seus panos,
reclames e enganos
refiz meus planos, meus laços
me despi de você no meu quarto
no espaço de meu corpo
tomado por inteiro
reencontrei as chaves
abri as janelas emperradas
de uma sala esquecida em poeira
lágrimas e olheiras
teias de aranhas
refletidas no assoalho
prendem restos carcomidos
apodrecidos, abandonados
de seus rastros
hoje não respiro mais teu hálito
o perfume impregnado
de um amor efervescente
sedento, incandescente
que outrora ardia em chamas
nos lençois desalinhados
de nossa cama.
agora nada é tudo
simples retalhos suados
esfarrapados
de um passado inacabado
que acabei de enterrar

Bia Marquez

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