Blog de Arnault L. D.

Foto de Arnault L. D.

A palavra morta

Não vou dizer que o acaso,
que o destino, que a sorte,
impessoal, me pertencem.
Que o verbo nu grafa meu traço
sem que eu os transporte;
se de minha mão não contem,
e assim achem o “bel-aprazo”...

Não vou juntar sem escolher
o que vier, como vier,
e apoderar que o fruto eu fiz.
Vou pesar, sentir, querer
e por de mim, por mim dizer,
tolice; beleza; cada matiz,
mesmo se erro, mas, há de ser.

A existência humana corta,
sobrevem a prima engrenagem
e esta lhe é menor, e mutável,
sem carne e sangue é morta.
Sem alma que sopre é bobagem
nem bela, ou feia, nem viveu...
É letra sem vida, poesia morta.

Triste “poéta”, que desdenha
na crença que descobriu Deus,
nos chips, que em cascata evacua
terrabites, a sugar do que venha,
no medíocre furtar do caos.
A dizer do acaso, obra sua...
E dos que vêem nexo e nem tenha...

Foto de Arnault L. D.

O sabor da tempestade

Foi durante uma tempestade,
o mundo, louco, em turbilhão
fazendo das coisas brinquedo
e mais difusa a realidade.
Se abrigo, ou prisão, sim e não,
a buscar tudo e tendo medo.

O que foi luz, ou relâmpago?
O que foi palavra, ou trovão?
O toque; um corpo, ou vento?
E o gosto que a boca trago,
um beijo...? Talvez, uma ilusão.
Tudo em meio ao tormento.

Nossa vida, a se encolher,
a um passo ao próximo passo.
Chuva nos retém dentro de nós.
Para longe, os pés querem correr
e pouco penso, apenas faço.
Sou instinto... e reflito após...

Busquei calor, algum abrigo
e seu tocar foi bom, e morno...
Aconchego que encontramos.
Lá fora, chuva e perigo.
O horizonte era seu contorno,
um território que nos damos.

E foi assim, numa tormenta
de encontros sem perceber,
temporal a envolver e tomar,
corpo molhado, alma sedenta,
sem saber, ver o que eu viver,
sem entender, ou sequer parar.

Agora, o céu limpo e claro
e o sol arde em meu rosto.
A chuva se foi, virou rumor,
mas, algo marcou, reparo,
na boca, molhada... um gosto...
de chuva, ou beijo... o sabor...

Foto de Arnault L. D.

A caixa da caixa de música

Ainda sonho consigo;
é quando a razão se cala
e não mais sou dono de mim.
E ao seu encontro sigo,
mais uma vez encontra-la,
para mais uma vez sem fim...

Quando sonho e não penso
é em você que eu moro.
Onde o querer diz que amo
e me entrega, tal incenso,
a subir aonde ignoro,
onde o eu não açamo.

Apenas no devaneio,
quando esqueço, me esqueço;
e inda é a maior razão,
minha riqueza, um veio
de fortuna, aonde desço
a colher estrelas no chão.

Minha alma e sentimento
esperam quando adormeço,
para impunemente a amar.
Nestas horas sem intento,
só o amor fala o que esqueço,
rasga-me o peito e vai voar...

Sob uma lua antiga,
de luar, azul, a cobrir
fecho os olhos para sonhar
dentro doutro que o abriga:
Um beijo... desliga o existir,
e resta só de nós o ar...

Foto de Arnault L. D.

Métrica

Minha mente quer o foco
destas sílabas contadas,
do ritmar cada bloco,
pela rima intercalada.

Quer a luta, uma barreira
ao meu livre pensamento,
e contornar eira e beira
feito água, feito vento...

Quer a dor do improvável,
o optar pelo complexo
à banalidade estável,
o multiplicar do nexo.

Quer a forma mais bonita
por mais que ela lhe custe,
sem atalho que evita,
sem trapaça, sem embuste.

Meramente o sublime
lhe parece razoável...
porém, isto não exime
do falhar inevitável.

De enganar-se em transladar
o que no sentir havia,
por mais que busque em tornar
o que pensei em poesia...

É preço pago ao siso
por leva-lo aonde tudo
torno longe donde piso,
meu abrigo e escudo.

Foto de Arnault L. D.

Circular

E lá vem o circular
para novos embarques,
a barganhar destinos,
inda e vinda, a abarcar
seus velhos fregueses,
anciões e meninos.

Em seu itinerário,
por janelas abertas,
esperam na jornada
um ponto imaginário.
E atentos aos alertas
espreitam a chegada.

Há quem desça em vão,
em caminhos errados;
tem os que adormecem
e passam da estação
e ficam lá, sentados,
esperando o que não vem...

Outros, nem direção;
querem só a paisagem
e girar pelo estrada,
porque cansados estão.
Querem só da viagem,
seja longa a jornada...

Leva o seu passageiro,
ruma a única rota,
caminha ao terminal.
Ante ao fim derradeiro,
o descer mais importa
aquém ao ponto final..

Foto de Arnault L. D.

Tema e variação

Eu bem podia falar de novo,
vestir palavras novas a tudo...
E até pareceria que movo,
mas, na verdade, eu não iludo.

Não sei ao certo o que tenho agora,
do que foi outrora, inteiro não é.
Porque sinto, algo já não mora,
talvez a esperança, essa irmã da fé...

Sei que era presença constante
pela vida em nossa relação,
onde ia via-se o adiante
como se este estivesse a mão.

Também tristeza, já fez caminho
e deixou estranha calmaria,
da paixão ficou um tal carinho
que agora me faz companhia.

Bem que podia falar de tudo,
mas, nem sei mais do que falaria,
se nem eu sei do que me faz mudo,
buscando entender me perderia.

Fogo a arder que não consome,
seu queimar a pele, acaricia...
Feito um jejum em que a fome
faz mais forte, e não deveria.

Eu bem podia falar de novo,
mas, na verdade, eu não iludo.
Até pareceria que movo,
vestir palavras novas a tudo.

Foto de Arnault L. D.

Um pouco além da estrela

Eu a procurei a um passo atrás,
num sempre assim, sempre quase,
entre as palavras e canção
que na surpresa vem, lhe trás,
num tema, um nome, uma frase
que reverbera ao coração.

Busquei nas horas tardias
nas quais só a mudez lidava,
a distância a medir nos astros,
saltando as estrelas, frias...
Pousei na Lua que passava
pelo carvão do céu sem rastros.

Em meio a noite eu fervo,
de uma febre que me arde
e deliro, eu, seu amante...
Beijo o seu beijo... O nervo
exposto do sentir já tarde,
a dor de lhe amar distante.

Banhado por gotas de suor,
sou molhado de sal no calor
e por meus olhos, marejados,
confundo o gosto deste amor
ao da lágrima, do mar, sabor
do beijo, e do choro, somados.

Mas, a procurei assim mesmo,
no mel esparso da fruta azeda,
na pouca visão da madrugada,
e no sol, que me cegava a esmo.
Na entrelinha e folha perdida,
na pauta em branco inacabada...

E se o deserto me convide
buscar em miragens, e no nada.
Trarei na areia, riscar seu vulto.
No delírio, oásis, uma vide...
vinho doce à uva fermentada,
clara faz sua sombra, no oculto.

Foto de Arnault L. D.

Ver fazer-se o amor

Quero a tarde fria, preguiçosa,
esquecer de tudo e ser carinho,
deleitar do corpo, desnudado,
o perfume com cheiro de rosa.
Perder-me e seguir sem caminho;
cabelos, gostos , seios, tudo...

Língua à pele arrepiada a lamber
no toque de um afã mais ousado,
o aspirar apressado ofegar,
o mover das ancas, por prazer.
E o seio rijo pela boca molhado
responder como pedisse o beijar.

Buscar o ventre, coxas, nádegas...
mulher, nua, inteira... e minha,
a estremecer de querer e calor,
a suar de mel a boca que entrega,
para o tato e a língua que aninha.
Abraça-me nas pernas sem pudor.

Toma-me p’ra si e devora-me,
sou parte em si, és parte em mim.
E nem a língua já não sabe a boca
a qual pertence, e se derrame
a caçar sabores, a dizer sim
à fome imensa, divina, e louca...

De lançar-se ao maior perigo:
Ser devorado ao que se abre...
No alcançar-lhe a alma, e esta flor
que se orvalha, a quero de abrigo,
que adentro no desejo que cobre
e entre nós, ver fazer-se o amor.

E em mim, ver fazer-se o amor...

Foto de Arnault L. D.

O livro das Histórias

Doce manhã, que espelha
esta minha alma fria
e me faz nela contido,
na bruma, que acolhia.
Vago, se noite o alvor lido,
se o canto é noturno ouvido.

Doce voz das lembranças,
de espelhos e andanças,
que parte-me noutros de eu,
em laminas, casos, papel.
a somar paginas, broquel,
livro das opções ao breu.

Seu frio beijo, de gelo,
abrasa-me a pele crispada
e a saliva, por selo, sua
espreguiçada em meu cabelo,
qual garoa à pele, sou-a.
A voz, ensaia... mas, não soa...

Lusco fusco, negra aurora,
ir-se embora e o outrora,
qu’inda mora... vir a loa,
breve zás de eternidade,
em verdade é a saudade...
A grade implode, a alma voa!

Eleva... levo, partes de céu,
uns tantos de Lua e miragem,
de olhos, de boca e imagem,
frias manhãs, noites ao léu,
de mar, de Sol e paisagem,
sabor de leite, amor e mel...

Rompe aurora... a bruma sega,
aguda, a luz corta o jardim.
Estrelas que findam no dia,
exílio profundo, as renega.
A fria manhã, é o confim
do ler das paginas de mim.

Foto de Arnault L. D.

Castelo e flor

Na rua, uma sombra alta e triste
ergue-se dentre a névoa gélida;
noite suspensa de um passado.
Tal braço, retesado em riste
do afogando, mão a buscar vida
e um mistério no tempo guardado.

Alta torre faz relevo à vista,
contrasta ao azul, somando ao céu.
Nuvens bordam a moldura entorno;
acima, janela a lua avista
e a filtra em vitrais, a luz pincel...
Quadro vivo, tela o chão, adorno.

Vestígios da beleza em ruína,
restos de sonhos, solvem a volta,
dos risos, dos casos em segredo.
Degraus subindo o mármore a cima,
ligando ao nada a ilusão solta...
Velhos fantasmas a trazer medo.

Apenas restou o que se ergue,
pois, mais ninguém, mais nada lá ficou.
Junto a ultima gota que verteu,
taça de cristal, vinho, e sangue,
estilhaçada a vida se quebrou.
Por testemunha a noite, que esqueceu.

O solo pontilhado de luar,
vazando aos vidros coloridos;
cintilou em matizes de carmim,
que a aurora escureceu ao raiar.
Revelando os Reis adormecidos,
em uma noite, que não teve fim.

Mas, o Sol não trouxe a claridade
que rompesse a densa névoa escura,
que encerrou dentre a alvenaria,
atrás de portas, paredes, grade.
Causas, culpas da história, pura,
não se soube, o oculto não traia...

E veio o anoitecer novamente.
Trancou as portas, fechou as grades,
cerrando as cortinas e os portões...
Desbotando tons, e o inconsciente
se encarregou de criar verdades.
Por provas, fez de mitos as razões...

Recolhido entre as salas desertas,
os anos a somar o abandono
pilharam a beleza em pedaços.
Abrindo furos, rasgando frestas.
E o dormir deste eterno sono,
Morfeu colheu por entre seus braços.

Tudo agora é escombro somente;
cravado à cidade, triste confim
de velhos espectros e da sombra.
Partilhado ao mendigo, indigente,
covil de ratos, aranhas, capim,
que feri aos olhos frágeis que assombra.

Mas, longe da escuridão, um alguém
guardara a lembrança, a luz vencida.
Que afundou-se aos relógios se pôr.
Lembrando a quem, já a muito além...
por tantos anos, por toda vida.
Posto uma prova que houvera o amor.

Solitária rosa, deixava ali.
Em data exata, quando ao ano vem:
De aniversário um presente terno,
no envelhecer do castelo e a si...
Até que a noite deitou-se também,
a pele esfriando-lhe de inverno.

E a ruína, assim, ficou mais só
e a historia, tornou-se rumor.
O castelo apartou-se do mundo,
sequer memória, saudade, ou dó.
Como se sempre ele fora a dor;
tal de canto algum oriundo...

Quiçá, a torre, querendo altura,
qual mão, apenas anseie outra flor,
pelo céu procurando a encontrar...
E para não quebrar-se a jura,
fez das pedras, pétalas, por amor.
Fez-se o castelo uma rosa a murchar.

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